Capa do livro Do Olimpo a Camelot

Escritos Lendários: Do Olimpo a Camelot

Do Olimpo a Camelot, de David Leeming

Por Daniel Vital

Ao estudar mitologia é quase que impossível encontrar um livro que se proponha a fornecer uma visão geral da matéria. Quase sempre os compêndios irão se concentrar em uma mitologia, como a grega, a egípcia, a Inca… O que não é, propriamente, um defeito dos livros, mas que gera um problema: Tende o estudioso a se concentrar em apenas uma ou outra mitologia, deixando as outras de lado.

É nesse particular que o livro “Do Olimpo a Camelot” é interessante. Ele não se propõe a analisar a mitologia do mundo, mas de uma região – a Europa – onde há um interessante fenômeno: o europeu considera-se como integrante de uma unidade única, ainda que multicultural. E em que aspecto os mitos das diferentes culturas fundamentaram essa crença?

Capa inteira do livro Do Olimpo a Camelot

A análise se desenvolve em três partes distintas. Na primeira os mitos da época pré-histórica são objeto de estudo e podemos notar a formação dos primeiros elementos simbólicos para explicar a si mesmos e o universo.

Assim, na época dos caçadores-coletores paleolíticos temos, primeiramente, a abordagem cerimonial da morte, e o surgimento de nichos com crânios de urso – locais de adoração? – talvez o primeiro indício de um animismo. Mais tarde, no neolítico, os primeiros mitos ligados à fertilidade feminina do período anterior ganham importância ainda maior, associados então, á fertilidade da terra. Surgem, também, os megalitos, ligados a deusa da fertilidade antiga. Esse momento do estudo é talvez o mais difícil, porque os indícios se prestam a várias interpretações.

A suposição de um sistema de mitos unificado surge a princípio com os (proto) Indo-Europeus, e a sua mitologia. O autor toma como certa a existência desses povos a partir de provas linguísticas (semelhanças entre o galês, latim e sânscrito, por exemplo). Outro indício seria de natureza mitológica, onde o advento de padrões comuns a vários povos distintos (tripartição da sociedade em castas, figura do herói, guerras apocalípticas) mostraria uma raiz como em que os indo europeus teriam levado seus mitos, ou ao menos alguns deles, quando conquistaram outras terras e lá se estabeleceram.

A relação entre os sistemas mitológicos dos povos conquistados e conquistadores é mais difícil para os primeiros, e a velha Deusa da fertilidade tende a dar lugar aos deuses patriarcais, bélicos e pastoris dos Indo-Europeus. Ela não é abandonada, e há uma certa sobreposição entre essas duas concepções, como é o caso da luta entre os Aesir e Vanir, deuses da guerra e da fertilidade.

A segunda parte tem como escopo a apresentação das diferentes mitologias do continente Europeu, desde a grega até a báltica, passando pela céltica, nórdica, romana, eslava, etc. Não cabe aqui resumir cada uma delas, mas apenas notar que várias similaridades e diferenças são apontadas e brevemente comparadas com outras. Para o estudioso, é como um Atlas onde os elementos são apresentados de forma superficial para que se possa ver o todo, o quadro finalizado.

A terceira parte é aquela em que amplo elemento Indo-Europeu, que atinge grosso modo grande parte da Eurásia incide sobre os mitos das tradições específicas e, depois, as formas gerais são retiradas e apresentadas como elementos arquetípicos de todas as mitologias europeias, inclusive plasmados pelo cristianismo, onde a Deusa retorna na forma da mãe do Deus Encarnado, Maria. O próprio Deus ascende a uma posição mais transcendental, ligada ao céu, mas se faz presente na terra através da relação com a Deusa.

O livro apresenta, em síntese, um estudo das formas gerais que a região – Europa – adotou, de maneira similar ou não, em cada uma de suas tradições culturais. Ele não se ocupa do mito de forma universal, mas dessa universalidade consubstanciada numa região de vários povos ligados pelas tradições, onde elas se originaram, porque evoluíram de uma forma, como são vistas e de que forma elas existem ainda hoje. É um livro que merece um estudo de qualquer acadêmico que se ocupe das mitologias de um desses povos, para que a ligação entre eles não fique, meramente, subentendida.

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