Sobre o Céu — Entre o Mito e a Ciência: Sol

Hélio

O Mito

Pela sua óbvia importância, o Sol está presente na mitologia de diversas civilizações de todo o mundo.

Para os gregos, o globo brilhante que surgia para trazer o dia era o deus Hélios, a grande divindade que nasceu do titã Hiperion e da titanide Teia. A imagem do deus é sempre caracterizada pelos raios de luz que adornam sua cabeça e pelo carro envolto em chamas puxado por cavalos divinos que cruzam o céu em alta velocidade.

Todas as manhãs após Éos, a Aurora, viajar em seu carro anunciando um novo dia, era a vez de Hélios iniciar a sua jornada partindo da Índia e terminando a viagem no rio Oceano, onde seus fogosos cavalos bebiam e se banhavam revigorando as forças para um novo dia. Enquanto isso, o grande deus descansava em seu resplandecente palácio todo de ouro para recomeçar tudo na próxima manhã.

Houve uma vez em que Faêton, filho de Hélios e de Climene, seduzido por um desafio proposto por Épafo, filho de Zeus, pediu ao pai a permissão para conduzir o carro de fogo pelo céu. Depois de muita resistência Hélios permitiu e a brincadeira transformou-se em tragédia, pois sem a destreza do pai, Faêton voou tão alto que abalou a ordem das constelações do Zodíaco, e ao descer desgovernado ameaçou incendiar a Terra. Para evitar uma catástrofe o grande Zeus lançou um dos seus raios que acabou por dar fim à vida do desastrado rapaz.

Além de Faêton, o poderoso Hélios unido a Perseís, cunhada de Climene, teve Circe a feiticeira, Aietes rei da Cólquida, Pasifae esposa de Minos e finalmente Perses. De sua união com a ninfa Rodos nasceram os sete Helíadas.

Constantemente sobrevoando as altitudes, Hélios era o vigia do mundo, a luz que iluminava a vida do povo grego, aquele que tudo observava, o eterno deus-Sol.
Rá

Para os egípcios também existiam os seus representantes solares, e o mais antigo era Rá o deus Sol. Também é atribuída a ele a criação e a nomeação de tudo o que existe, de suas lágrimas surgiram os seres humanos que foram cuidados e providos para que nada lhes faltasse. Por esse motivo os egípcios eram considerados como o “gado de Rá”.

O grande deus é representado com cabeça de falcão sustentando uma serpente que contorna o disco solar. Outras representações mostram o deus apoiando o Sol entre as asas ou entre duas serpentes. A cidade sagrada dedicada a ele era Heliópolis, o próspero centro econômico localizado no Baixo Egito. Uma das lendas conta que Rá vivia em um luxuoso palácio a bordo de sua barca sagrada. Posteriormente o deus-Sol foi mesclado a outro deus, Amon e passou a ser cultuado como Amon-Rá.

Com o passar dos anos o deus de ossos de prata, carne de ouro e cabelos de lápis-lazuli foi envelhecendo e a admiração de seus súditos acabou esmorecendo fazendo com que o deus perdesse importância. Indignado pelo desprezo, Rá convocou a deusa Hator que se metamorfoseou em Sekhmet, a deusa da guerra com cabeça de leão que, sedenta por sangue, passou a caçar a população destroçando-a numa carnificina sem fim.

Percebendo que Sekhmet lhe fugira ao controle, Rá que não desejava eliminar a humanidade, ordenou que fizessem uma mistura de bagos vermelhos e cerveja que se parecesse com sangue e, então, espalhou o preparado pelos campos, confundindo a deusa que bebeu com avidez terminando por embriagar-se e não conseguiu mais reconhecer a sua presa humana.

Ptah

Ainda na civilização egípcia antiga existia o deus solar Ptah, e que era idolatrado em Mênfis. Ptah era o criador do mundo, das coisas e objetos e, portanto, era o patrono dos artesãos, escultores e arquitetos. Sua esposa era a terrível Sekhmet. Além de Ptah, havia outro deus relacionado ao Sol, era Amon o mais recente de todos os deuses solares e aquele que acumulava grandes riquezas. Sua imagem mais comum é o próprio disco solar.

Mesmo o famoso Hórus, filho de Osíris e Ísis, é identificado como um deus-Sol que nasce todas as manhãs abrindo suas asas sobre a Terra. Seu resplandecente olho atento e zeloso cruza o céu observando cada ser que habita as terras egípcias. Não bastasse todas essas divindades solares da mitologia egípcia, o Sol poente ainda é representado por Atum que se esconde ao fim de cada dia.

Não é de se espantar que um território banhado por tanta claridade que seus deuses tivessem tamanha relação com o astro luminoso.

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Para os Astecas, habitantes das regiões ensolaradas do que hoje conhecemos por México até a Guatemala, também cultuavam o Sol adorado pelo nome de Tonatiuh. Mas a grande esfera brilhante que surgia no céu e com sua força trazia luz, calor e estimulava com seu ritmo a agricultura e a vida do povo, sacerdotes e de seu soberano, era personificada pelo deus Uitzilopochtli, o sol do meio-dia. Uma lenda diz que em uma época distante o deus foi apenas um homem, mas possivelmente com habilidades mágicas.

Uitzilopochtli nasceu da deusa da vida e da morte Coatlicue que se trajava com serpentes e, com sua poderosa arma conhecida como xiuhcoatl (serpente de turquesa), extermina seus próprios irmãos, as estrelas meridionais, e sua irmã Coyolxauhqui, a deusa das trevas. De um simples homem, Uitzilopochtli alcançou a liderança do diversificado e complexo panteão asteca.

Outras culturas personificaram o Sol em suas divindades por razões evidentes. A esfera luminosa que se ergue todos os dias no leste foi inegavelmente relevante para as civilizações que a viam como um dos maiores ícones divinos que deveria ser deificado e adorado por toda a eternidade.

Sol

A Ciência

Sol, o centro gravitacional de nosso sistema planetário. O astro emissor de luz e calor que torna possível a origem e perpetuação da vida de grande parte das espécies em nosso planeta. Esta imensa esfera luminosa tem cerca de 696 mil km de raio e sua luz irradiada equivale ao brilho de mais de 600 mil luas cheias.

Mas o que é verdadeiramente o Sol? Esta estrela de quinta magnitude é uma gigantesca bola de gases que queima continuamente há aproximadamente 4,6 bilhões de anos. A temperatura de superfície pode chegar a 6 mil graus Celsius, o que seria o suficiente para volatilizar rochas, mas nem se compara a temperatura em seu núcleo que atinge algo em torno de 20 milhões de graus. Toda essa brutal energia é produzida pela fusão do elemento hidrogênio em altíssima pressão pelo efeito da gravidade. Da fusão do hidrogênio surge outro elemento mais pesado, o hélio que vai entrando em ação conforme o estoque de hidrogênio vai diminuindo.

Nesta nova fase terminal a energia produzida pelo hélio atingirá níveis tão devastadores que fará a estrela aumentar de tamanho engolindo Mercúrio, Vênus e até a Terra. Outros elementos mais pesados como o oxigênio, o carbono e o silício são produzidos mais vigorosamente no interior da estrela à medida que acontece a nova fase de intensa fusão nuclear. Mas felizmente a voracidade destrutiva só acontecerá quando o Sol estiver chegando ao seu fim, daqui a mais ou menos 5 bilhões de anos. Por enquanto, ele está na Fase Principal, ou seja, continua produzindo energia através da queima partilhada de hidrogênio e hélio. Para se ter uma ideia do poder que entrará em atividade em um futuro distante, as maiores explosões produzidas pelo homem foram conseguidas com as bombas de hidrogênio, no entanto esta força destrutiva não se compara ao imenso poder de fusão do hélio que fará o Sol crescer e atingir a fase de gigante vermelha.

Sol2

O Sol ocupa uma posição secundária na Via-Láctea, sua distância com relação ao centro da galáxia é de 33 mil anos luz e leva 225 milhões de anos para fazer um giro completo em sua longa jornada. A sua velocidade de rotação varia de acordo com a latitude, isso quer dizer que as camadas externas giram em velocidades variáveis, sendo mais devagar nos pólos, 34 dias, e mais rápido na linha do equador, 25 dias. Esse gigante luminoso tem uma gravidade muito mais forte que a de nosso planeta, pois uma pessoa de 60 kg aqui na Terra pesaria mais de uma tonelada ao aproximar-se da superfície da estrela.

Se o Sol apagasse de repente, só saberíamos 8 minutos e 18 segundos depois devido à imensa distância que se encontra de nós. Em poucas horas a temperatura despencaria e entraríamos em um inverno que modificaria permanentemente a paisagem e extinguiria praticamente toda a vida. A Terra então seria uma imensa rocha fria e escura a errar eternamente pelo espaço.

Quanto ao seu espetacular volume, facilmente caberiam cerca de um milhão de planetas Terra em seu interior o que nos dá uma boa ideia de como o Sol é demasiadamente grande se comparado aos planetas que o cercam. Se pudéssemos reunir todos os planetas, satélites, cometas, asteroides e poeira de nosso sistema planetário em um só corpo, mesmo assim todo este volume somaria apenas 1% da massa do Sol.

Macha Solar

Uma peculiaridade do Sol são as famosas manchas solares avistadas pela primeira vez por Teofrasto de Atenas, discípulo de Aristoteles, no século IV a.C. Muito mais tarde, em 1611, Galileu observou as intrigantes manchas que lhes trariam problemas com a Igreja. Tais manchas são regiões menos quentes que ocorrem na superfície geralmente nas proximidades da linha equatorial; normalmente apresentam temperaturas de 4.000 graus Celsius que contrastam com os 6.000 graus comuns ao restante da superfície.

Seu tempo de duração varia de algumas horas até meses, e sua origem está ligada às alterações bruscas do campo magnético que são extremamente fortes e podem se estender por mais de 100 mil km de diâmetro e uma profundidade de mais de 20 km. Com os frequentes estudos chegou-se à conclusão de que as manchas alcançam o seu pico máximo de atividade e praticamente desaparecem a intervalos de 11 anos.

Um outro fenômeno que desperta bastante interesse dos cientistas são os arcos coronais que se projetam da superfície e podem chegar a 100 mil km de altura. Estes arcos de gases ionizados que de tão gigantescos podem envolver um planeta do tamanho da Terra, atingem temperaturas de milhões de graus Celsius.
Hoje se sabe que o Sol está evaporando. A cada segundo a estrela lança no espaço partículas de elétrons, prótons e núcleos de hélio e hidrogênio, o chamado Vento Solar. Mas essa perda de matéria é tão insignificante que para o Sol desaparecer completamente levaria aproximadamente 100 trilhões de anos.

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Um dia o Sol vai morrer em seu derradeiro estágio de Anã Branca. Não será mais uma gigantesca estrela radiante que impera incontestável em seus domínios, mas no final de sua gloriosa existência será apenas um astro opaco do tamanho da Terra a vagar pela noite cósmica.

AUTOR: Ricardo Costac

2 comentários em “Sobre o Céu — Entre o Mito e a Ciência: Sol”

  1. Uma curiosidade que acredito enriquecer um pouquinho mais esse belo texto, é a de que existem ecossistemas na terra que não dependem tão diretamente do sol, mas que ainda de forma indireta necessitam dele. Se tratam de seres vivos que habitam profundezas, próximas a valas e fossas vulcânicas que aquecem a água, proporcionando uma energia para manutenção da vida que independe do sol. Contudo, boa parte da alimentação desses seres vivos depende da deteriorização da matéria orgânica que existe nas águas mais superficiais, que descem até as profundezas para servir como fonte de anergia. É incrível como o sol nos influência, seja em nossa vida biológica, seja em nossa vida psíquica, se é que podemos separar uma coisa da outra.

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