Papo Lendário #217 – Divulgação Folclórica, com Andriolli Costa

Papo Lendário #217 – Divulgação Folclórica, com Andriolli Costa

Nesse episódio do Papo Lendário, Leonardo Mitocôndria entrevista Andriolli Costa, o Colecionador de Sacis

Nessa entrevista, comentamos como está a divulgação de obras sobre o tema folclore.

Conheça também a obra recém publicada de Andriolli, “O Colecionador de Sacis, e Outros Contos Folclóricos” .

– Esse episódio possui transcrição, veja mais abaixo.

— LINKS —

Live do dia 26/09 sobre “O Colecionador de Sacis, e Outros Contos Folclóricos”

Compre a obra na Amazon

Podcast Poranduba

Site do Colecionador de Sacis

Consultoria Folclórica

— EQUIPE —

Pauta, edição: Leonardo Mitôcondria
Locução da abertura: Ira Croft
Host: Leonardo Mitôcondria
Convidado: Andriolli Costa

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— Transcrição realizada por Amanda Barreiro (@manda_barreiro)

[00:00:00]

[Vinheta de abertura]: Você está ouvindo Papo Lendário, podcast de mitologias do projeto Mitografias. Quer conhecer sobre mitos, lendas, folclore e muito mais? Acesse: mitografias.com.br.

[Trilha sonora]

Leonardo: Muito bem, ouvinte. No episódio de hoje do Papo Lendário, estou apenas eu aqui da equipe, mas não tem problema, pois hoje será um episódio de entrevista, então o conteúdo virá todo do convidado. Digo convidado para não dizer que é da equipe, pois já participou de vários episódios aqui do Papo Lendário, além de a gente já ter feito três projetos juntos do Mitografias.

Andriolli: Já sou da casa. Já não tem mais vassoura atrás da porta.

Leonardo: Exato. Então hoje estou com o Andriolli Costa como convidado, como entrevistado.

Andriolli: Valeu, Leo, muito prazer estar aqui. Oi, pessoal, bom estar aqui com vocês de novo.

Leonardo: Legal. Muitos ouvintes já te conhecem, já viram de outros episódios que você participou aqui, além da própria antologia que a gente fez junto, ou então também que tem muitos ouvintes do Papo Lendário que também são ouvintes do Poranduba. Então muitos aí já te conhecem, mas, caso tenha algum ouvinte mais recente que também não te conheça, pode se apresentar aí.

Andriolli: Beleza. Então meu nome é Andriolli. Eu sei que sempre digo isso, mas é importante. Não é meu sobrenome, é meu nome, Andriolli Costa. Sou jornalista, natural de Mato Grosso do Sul, pesquisador, terminei meu doutorado ano passado, gravei aqui com o Leo contando como foi a tese, que teve tudo a ver com mito. E agora eu estou no pós-doutorado da Universidade do Estado da Bahia, onde eu estou estudando a relação entre folclore e jogos analógicos. Novidades aí pela frente. Sou editor do site Colecionador de Sacis, onde apresento o meu podcast, o Poranduba. Toda semana ou quase toda semana, sempre que possível, falando sobre folclore em entrevistas ou monólogos. E também o nosso querido Popularium, que está para voltar. Eu tenho 60 dias para entregar o primeiro episódio, que está com contrato assinado, então vai rolar aí Popularium, segunda temporada.

Leonardo: Bacana. Já que você citou o seu pós-doc, tem previsão de quando vai finalizar? Qual é o tempo?

Andriolli: É um ano. Eu comecei agora, a primeira participação minha foi em agosto, que aí começam as disciplinas, eu começo também a entrar em um grupo de pesquisa ali dentro da universidade, então, a partir de aí, um ano para você fazer o projeto. Eu já estou selecionando o corpus, vão ser jogos analógicos, especialmente jogos de carta, que foi o que eu mais encontrei, sempre com relação com mitos brasileiros. E aí eu já encontrei… a grande maioria dos poucos que tem são voltados para combate e alguns voltados para humor, e aí o que me chamou atenção é isso, a gente só consegue resolver essa relação do jogo analógico com folclore – parece – de duas maneiras: ou você bota os mitos para se enfrentarem, para matar, para exterminar o Saci, exterminar o Curupira, ou você coloca uma perspectiva de humor, que às vezes é muito tênue entre o limite do humor e do racismo mesmo com povos originários e deboche com saberes ancestrais. Então você vai fazer uma piada lá… tem um jogo de cartas que você bota, ao mesmo tempo que você tem um Curupira, você tem lá um índio – eu estou usando índio de propósito, porque está escrito isso, gente – de iPhone, um índio de bermuda da Adidas. Aí você fala: “Putz, é assim que a gente consegue lidar? Não tem outra alternativa para lidar? Não é possível”. Então meu trabalho tem duas fases: a primeira é compilação e análise – eu estou procurando juntar esse material e fazer uma análise dele, como é que eles lidam com os temas do folclore, com os temas dos povos originários, com o racismo, com esses desafios do contemporâneo; e, na segunda etapa, encontrar os vazios, o que não está sendo trabalhado, o que faltou ser trabalho, e, nesses vazios, eu posso inclusive ter ideias para fazer outras coisas, outros produtos. Então quem sabe aí do pós-doc não vire alguma coisa no futuro? Estou prometendo aqui, mas a gente nunca sabe o dia de amanhã.

Leonardo: Que pena que só encontrou dessas formas. Eu sempre imaginava algo mais – não que tivesse, mas seria legal ter algo – narrativo, acho que encaixaria.

Andriolli: E muita gente fala assim: “Ah, tem o rpg tal e não sei o que”, eu falo: “Rpg não vai entrar na pesquisa, gente”. Porque tem gente falando assim: “Ah, por que você não trabalha com videogame também?

Leonardo: Você tem que filtrar, senão…

Andriolli: Tem que filtrar, eu tenho que fazer um recorte. Se eu não fizer um recorte, eu posso estudar o mundo. Então claro que o videogame é interessante, mas eu acho que o jogo analógico tem uma relação com o folclore muito legal, que é o da presença, é você estar junto com os seus amigos fazendo um ato presencial mesmo ali, que é todo ritualístico. Então claro que hoje em dia a gente não está com essa facilidade toda para jogar por conta da quarentena, você não vai à casa do seu amigo jogar War, mas está ali guardadinho. Um dia a gente vai poder jogar de novo. Então tem muito disso.

Leonardo: Bom, beleza, então, vamos já começar aqui algumas perguntas, mas já vai estar até relacionado com isso que você falou, com essa parte que você encontrou sobre como é representado o folclore, porque, ouvinte, o episódio de hoje vai ser para a gente falar de como é essa divulgação folclórica, como é divulgar. O Andriolli, que está aprofundado nisso, como ele vê a divulgação, e aí aproveitar e, mais na segunda metade do episódio, falar do livro que ele está lançando. Pode já citar seu livro, que aí a pessoa, enquanto está ouvindo, já vai pesquisando se ela não ouviu ainda sobre o livro.

Andriolli: Maravilha. Vocês têm que saber que, quando eu gosto de um nome, eu uso esse nome em tudo. Então, além de o nome do meu site, que é o colecionadordesacis.com.br, o meu livro se chama O Colecionador de Sacis e Outros Contos Folclóricos. E aí lá o conto de abertura já é O Colecionador de Sacis, para dar o tom do livro que eu quero. É um conto bem dramático. E, ao longo do livro, vocês vão encontrar sete contos inspirados em folclore brasileiro – sempre brasileiro, porque é o que me interessa – e os contos vão transitando de vários gêneros. Vocês vão encontrar ficção científica, drama, romance, fantasia, mas o que une todos eles vai ser realmente essa relação de afeto com o folclore brasileiro. E tem várias resenhas que estão chegando, o pessoal está falando que não é só um livro com contos instigantes, mas que é um verdadeiro manifesto, e eu gostei muito disso, porque eu escrevi querendo fazer bem diverso, porque é para mostrar que é possível, que a gente não precisa ficar contando sempre do mesmo jeito, com o mesmo estilo, do mesmo gênero. Eu quis sempre variar bastante ali no nosso uso dos mitos brasileiros.

Leonardo: Bem interessante. Tem uma questão aí que eu quero levantar relacionada a isso aí. Eu tenho acompanhado já há bastante tempo seu trabalho e você tem o podcast – quem é ouvinte é bem provável de já conhecer o Poranduba -, mas você escreveu esse livro e você tem outras produções também. Você já produziu um filme, já fez produção em fotografia, e sempre com essa questão do folclore. Mas eu queria saber como é trabalhar nessas diversas mídias e qual delas te chama mais atenção, qual você gosta mais.

Andriolli: Qual eu gosto mais é difícil, porque o pessoal tem muito aquela onda de “Ah, se você faz só uma coisa, você vai ser bom naquilo; se você faz muita coisa, você vai ser mediano em tudo, vai ser medíocre em tudo”. Paciência, é o que eu consigo fazer. A minha vontade de criar vem em ondas de interesse, tudo atravessado por essa minha vontade de falar sobre esse tema que eu tanto amo. Então às vezes vão vindo ideias, então, que nem o Leo falou de fotografia. Eu comecei a ter interesse por fotografia quando eu, dando aula de Fotojornalismo, comecei a pesquisar referência e vi que tinha um monte de ensaios que as pessoas usavam mitos gregos, ninfas, súcubos e não sei o que, e eu falei: “Caraca, quem já fez isso com folclore?”, e não achei nada ou quase nada. E muitos deles usavam, abusavam da estética do nu para fazer uma coisa bem de galeria mesmo, e aí, quando eu vi isso, eu falei: “Cara, eu vou fazer ensaios nus inspirados em folclore brasileiro para pegar um público muito diferente”, porque eu já tinha um público ali de crianças, de jovens. Eu queria levar isso para um público de galeria, um público que não tivesse nenhum contato com nada que eu já tivesse feito antes. Eu nunca tinha feito nenhum ensaio nu na vida, fui fazer oficinas, fui aprender como é, corri atrás, e aí fiz esse projeto com quatro ensaios – dois masculinos e dois femininos – representando Boitatá, Boto, Lobisomem e Negrinho do Pastoreio, e aí foi muito legal, mas eu não consegui dar sequência porque era um investimento muito grande, tinha que pagar locação, para as coisas que eu queria fazer, eu tinha que investir muito mais e tal. Então eu não consegui ir para frente, mas o que eu fiz, eu já fiquei bem satisfeito. E muita gente passou a despertar novos olhares para o folclore para uma questão também estética: você consegue trabalhar aquilo com estéticas artísticas e muito sofisticadas. Então eu achei uma delícia fazer. Aí o audiovisual, que também é uma coisa que eu gosto muito, eu já dei aula de audiovisual na universidade e tal. Eu tenho essa limitação de equipamento, mas eu quero fazer, então eu faço. Então eu já fiz vários curtas. O meu primeiro curta é de 2010, era inspirado na lenda dos tesouros enterrados no Paraguai; depois eu fui fazer o filme do Colecionador de Sacis mesmo; e aí vieram algumas outras pequenas produções, até fazer, esse ano, o Raízes, que é o meu documentário, onde eu entrevistei os meus avós e parte da minha família paterna para saber qual é a relação deles com folclore brasileiro e especialmente com o Saci. E foi muito emocionante para mim, porque o meu avô faleceu ano passado, então retomar esse material que eu tinha gravado já com ele foi uma retomada ali de muitas lembranças, e fazer essa exibição ali em streaming, ao vivo, para todo mundo que acompanhou, nossa, foi demais, eu chorei muito, ri muito. Foi gostoso demais. Falei da foto, falei do filme, e o podcast, que está sempre emocionando muita gente, o livro, que está fazendo as pessoas – alguns contos – chorarem e outras, se divertirem, outras, sonharem. Então, assim, tantas emoções que dá para você despertar, e eu sendo esse catalisador, mas quem está despertando mesmo é o folclore, é esse sentimento que a gente tem de revisitar a si mesmo. E aí, para eu encerrar essa minha primeira falar, um comentário que eu achei muito legal de um leitor do livro foi que “O Andriolli conta histórias que parecem que sempre estiveram com a gente”, que é essa familiaridade.

Leonardo: É, bacana. É legal ver isso aí e ver como você se emociona também falando de folclore, apresentando o folclore em si. Eu assisti à live quando você passou o documentário, então eu vi também o pessoal todo empolgado, eu estava empolgado ali, e isso é legal, isso é interessante para a gente ver a minha próxima questão aqui, que é essa visão que as pessoas têm do folclore nacional, se, para você, você tem visto se isso tem melhorado? Porque sempre teve aquela visão bem preconceituosa mesmo, acho que não teria outra palavra, de ser algo menor, coisa desse tipo. Você acha que isso tem mudado? Você acha que tem melhorado? O que você pensa disso?

Andriolli: Infelizmente, acho que surgiram outras questões. Eu comecei a ler sobre folclore, a trabalhar, na iniciação científica – hoje eu estou no pós-doutorado, comecei na iniciação científica -, em 2008. Então são 12 anos, e, nesses 12 anos, eu vi uma transição que foi até bem interessante, que quem estava criticando o folclore dez anos atrás, hoje não é mais esse mesmo público. Como assim? Dez anos atrás, as pessoas estavam lá falando assim: “Ah, folclore brasileiro é tosco, é ridículo, o legal mesmo é mitologia gringa”, mesmo quando usam o termo folclore, vai ser o folclore inglês, vai ser o folclore britânico, alemão, enfim, e aí o folclore brasileiro sempre parecia deslocado, porque essas pessoas não estavam acostumadas a ver narrativas, ilustrações, estéticas de todas as maneiras inspiradas nessas nossas criaturas. Então o próprio nome dos nossos mitos gerava estranhamento, então é muito fácil você ver ali as pessoas usando um elfo, elven, e não sei o que, só que estranhar quando você pensasse em Boitatá, e falar: “Ah, que nome estranho”. Não é estranho, é porque você não está acostumado a ver isso nessa mídia que você está consumindo. Isso sumiu muito, enfim, ainda existe, claro, mas, comparado ao que já foi, é muito menos. A discussão que passa a surgir de alguns anos para cá, e que esse ano está muito forte, é que folclore – ainda insistindo nessa lógica de que folclore é mentira – é um saber menor, folclore é inferior, mas isso falando a partir do ponto de vista dos indígenas. Então indígenas muito vocais nas redes sociais vão dizer: “Gente, isso aqui não é folclore, isso é cultura indígena”, e eles estão falando isso porque eles têm esse entendimento de que folclore é mentira e muito essa lógica, que não é uma lógica aplicável, que só usam folclore para falar do que é indígena. Isso não é verdade, porque, se a gente começa a (tensionar) [00:16:43], a gente vai lembrar de negrinho do pastoreio, que não tem nada de indígena, de mula sem cabeça, que não tem nada de indígena, lobisomem, enfim. A gente tem vários mitos que não são indígenas, então essa primeira comparação já não vale. E o que eles estão usando para falar que é folclore não é o que a gente usa; folclore é muito mais amplo do que mito e lenda. Folclore são modos de pensar e agir do povo, caracterizados pela tradição e que dão forma a uma identidade de grupo, de classe, de raça. É muito mais amplo. Então folclore vai estar no modo de a gente se vestir, no modo de a gente falar, no modo de a gente comer, no modo de a gente gesticular e no modo de contar histórias, que aí vão, sim, estar mitos e lendas. Então o modo como isso está sendo criticado é algo que eu também preciso responder, só que eu tenho que responder com muito mais jeito do que eu respondia antes para essas pessoas que eram só ali anglófonas, amantes da cultura estrangeira; eu tenho que conversar com esses povos indígenas, que, sim, eles estão muito sensíveis, e, sim, eles têm muito motivo para ficarem frustrados com o modo como a cultura indígena vem sendo tratada no Brasil, só que o que está acontecendo é que pessoas que seguem esses povos indígenas estão repetindo sem saber, eles só estão pegando o esqueleto da discussão, a casca da discussão, na verdade, e aplicando isso sem reflexão. Então às vezes eu faço ali uma postagem divulgando um trabalho e aí o cara vem e fala: “Você sabe que isso não é folclore, não é? Isso aí é cultura indígena”, e não é, ou então, mesmo se for, às vezes pode ser folclore indígena, assim como tem o folclore não indígena. Toda sociedade humana é atravessada por folclore. Então isso gera novos debates, novas discussões que eu, enquanto divulgador de folclore, tenho que encarar e encarar com atenção, porque qualquer deslize a gente pode gerar uma falha de comunicação que vai parar que eu não me importo com o que o indígena está pensando. Não é isso, é claro que eu me importo, o que eu estou tentando colocar é que as nossas discussões de valorização do que é folclórico, do que é ancestral, do que é um saber tradicional, também buscam construir coisas que os povos indígenas, quando estão chamando isso de cosmologia, estão chamando de outras coisas, também estão querendo. Então eu sempre falo assim: não dá para a gente falar de folclore do artesanato indígena sem falar de demarcação de terra; não dá para a gente falar de valorização dos saberes tradicionais e ouvir os mais velhos, se os velhos estão morrendo aí de pandemia de covid. Então está tudo interligado, a gente está tentando valorizar as mesmas coisas, só que usando talvez nomes diferentes, perspectivas diferentes, e paciência. Paciência. A gente vai construindo junto. Eu espero sempre isso, sempre essa relação do conjunto.

Leonardo: É, interessante isso aí. Eu espero aí para você, ouvinte, que isso tenha ficado bem claro, porque para mim, na verdade, já era a forma também como eu pensava, porque eu entendo bem isso, Andriolli, que você falou, porque aqui eu também passo, de certa forma, um pouco disso aí, só que com a relação da palavra mito, mito e mitologia, porque também é algo que fica nesse sentido de “Ah, não, isso aí não é mitologia, porque mitologia é algo que é mentira”, tem essa imagem também. Então aqui no Mitografias a gente tenta mostrar: não, quando a gente está falando de mito e mitologia, a gente está querendo dizer isso. Só que aí, nessa parte também com povos indígenas, também eu vejo que é delicado, tanto que um dos motivos que até hoje no Mitografias a gente não teve nada muito voltado para elementos indígenas, é por causa disso, eu preciso tomar todo um cuidado, porque eu sei que é um assunto sensível, e eu não estou querendo aqui desrespeitar ninguém, pelo contrário. Quero mostrar esses elementos, tanto que a gente só passou – em alguns episódios -, a gente passa, mas também em conceitos de origem africana, que também tem uma certa sensibilidade, e os indígenas também.

Andriolli: Talvez você já tenha percebido isso, inclusive, com os ótimos programas que vocês têm de mitologia iorubá e tal, é que o termo mitologia para os estudos afro-brasileiros já é tendência há pelo menos 70 anos aqui no Brasil. Edson Carneiro, Arthur Ramos, os caras que estavam lá em 1930, Bahia, Recife, estavam pensando isso e usando esse termo, mitologia afro-brasileira, mitologia iorubá, mitologia (inint) [00:21:53], não sei o que, e isso ficou e ninguém questiona isso, porque faz parte mesmo: é a mitologia dos orixás, e é incrível, e é verdade, e é pungente, é potente, direciona a nossa vida. Agora, quando se fala assim: mitologia tupi, mitologia guarani, mitologia tucano – aí isso ainda gera estranhamento. Eu acho uma pena, porque as discussões podiam estar muito mais avançadas. E eu aproveito até esse espaço para levantar algumas coisas que a gente vem discutindo com frequência nas lives do Folclore BR – esse mês a gente discutiu muito isso, que é, por exemplo, as pessoas falam assim: “Ah, por que usa folclore?”. Folclore é uma palavra estrangeira. Se for assim, laranja é uma palavra estrangeira também, laranja vem do árabe, isso não é argumento. Aí “Ah, mas é um conceito estrangeiro. Vamos usar cosmologia”. Cosmologia é um conceito alemão do século 19, também não é nativo. Teve um comentário maravilhoso que mandaram esses tempos aí: “Ah, isso não é folclore, isso é mitologia”, “Vamos usar mitologia, que não é um termo estrangeiro”. Gente, pelo amor de deus, mitologia vem do mythós, enfim, isso é um esvaziamento de argumento. Até na nossa live teve um indígena tucano, fez um comentário que eu achei louvável, ele falou: “Muito se usa agora encantado para falar dos seres das matas indígenas”, ele falou assim: “Encantado também não é uma palavra nossa”. E aí? A ideia, claro, cada povo vai chamar de um jeito… e eu já perguntei isso para alguns indígenas, inclusive Daniel Munduruku, Denilson Baniwa: “Então como é que vocês chamam?”, eles não chamam de nada às vezes, porque faz parte da vivência, não é algo separado, não é “Ah, aquele conjunto de criaturas”. Não é uma preocupação deles, às vezes não tem um nome específico. Então a gente também não pode se furtar de fazer análises em profundidade dos nossos observáveis. Isso faz parte da própria dinâmica ali do entendimento cultural. Então o povo vai chamar de um jeito ou não vai chamar – tudo bem. Eu não sou do povo, eu chamo dessa maneira, entendendo e respeitando o que eles estão definindo. Isso é antropologia, isso faz parte.

Leonardo: Tem essa questão dessa sensibilidade, da importância ali da palavra, mas eu acho que, nesse caso, você tem que prestar muita atenção: a pessoa está usando folclore ou mito para desmerecer? Não, a gente… nós dois, isso eu posso dizer por nós dois, não temos essa motivação, porque não faz o menor sentido. Tem gente que ainda vai usar isso, vai usar de forma pejorativa.

Andriolli: Isso é muito importante, gente, olha só: tem gente que pode chamar do jeito que você quiser, fala: “Ah, não quero que chame de folclore, eu quero que chame de X”, aí o cara vai chamar de X, mas vai agir para a destruição.

Leonardo: Exato.

Andriolli: Ele vai agir institucionalmente para que a cultura queime, ele vai apoiar um governo que estimula que a cultura queime, como as matas do Cerrado, da Amazônia. Esse tipo de ação é o mais importante. A nomenclatura, sinceramente, é um capricho, porque como a gente age para salvaguardar esse saber ou para reconhecer esse saber, e, reconhecendo esse saber, reconhecendo também o povo que o manifesta, isso aí é o que vai definir para mim o respeito real que a gente está manifestando aqui. Então tem muita gente que eu conheço, gente mais velha inclusive, que não vai usar as palavras que a gente usa no dia a dia, não vai usar, por exemplo… que hoje já vira um consenso, parece que é um consenso amplo na internet, que a gente não usa índio, a gente usa indígena. Eu conheço muito pesquisador que faz muito pelos povos indígenas e que usa índio até hoje, porque foi a formação dele. Aí você vai cancelar o cara por isso? Não faz sentido, olha o que ele está fazendo ali, o diálogo que ele está construindo, as pontes que ele está fazendo e interferindo ativamente para que esses povos sejam atendidos em todas as dimensões dos seus direitos – mas ele usa índio, e aí? É isso que vai mostrar que ele desrespeita? Pelo amor de deus. Então as coisas são muito mais complexas, eu quero dizer assim, do que o Twitter.

[Trilha sonora]

[Bloco de recados]

Leonardo: Uma coisa que eu acho interessante em um dos projetos que você faz, que é do próprio Poranduba, é algo que me chama atenção e, nos últimos episódios, isso tem parecido que tem tido mais é que você não se prende, no Poranduba, à questão de mitos e personagens. Então é um podcast que fala do folclore, beleza. Então vai só falar de saci? Já que é do Colecionador de Sacis. Vai só falar da mula sem cabeça, só disso aí? Isso eu acho interessante, você mostra bem que o folclore está além dessa questão dos personagens dos mitos. Você fala das partes de comidas, de festas, de bebidas, tem a questão de artesanato. Isso eu acho legal, porque a gente estava falando aí dessa palavra folclore, o que ela traz ali, tem o lado pejorativo, mas tem gente que já está entendendo melhor como pode ser usado, mas ainda assim muitas vezes a pessoa pode ligar só ao mito, como se folclore fosse o sinônimo de mitologia nacional, e você mostra que está além disso aí. Você mostra que não é só um conjunto de seres sobrenaturais, digamos assim. Isso que eu acho interessante. Queria que você falasse mais disso, porque eu vejo que isso… não sei se é impressão minha ou não, mas parece que no Poranduba está cada vez mais.

Andriolli: Sim, e as pessoas sentem falta. Eu sei que todo mundo ama quando eu falo de mitos e lendas, os apoiadores sempre falam assim: “Ah, eu queria mais história”, e vai ter, eu me comprometo que sempre tenha, só que eu tento trazer essas outras coisas, inclusive biografia de pessoas que foram importantes para o folclore, que nem o Leo falou aí, artesanato mesmo, essas discussões que vão além, para mostrar esse grande espectro que é o folclore brasileiro, que é essa grande árvore, que eu costumo dizer, uma árvore cujas raízes são a tradição e a identidade, e que os galhos podem trazer muitas coisas, que vão de comidas típicas, que vão de modos de fazer, que vão de modos de contar histórias, e tudo isso. E eu sei que muitos dos nossos ouvintes são criadores, tem gente que é pesquisador, tem gente que é criador de conteúdo, quadrinista, escritor, não sei o que, e eu quero mostrar que dá para a gente inspirar em tudo isso para virar uma pesquisa, para virar uma matéria, para virar uma história. É o que eu faço. Então o artesanato pode te inspirar a construir cenas muito interessantes. Então, no meu próprio livro, o último conto é uma ficção científica inspirada no artesanato terena. Eu construo ali toda uma cena para chamar a atenção e valorizar o artesanato terena. Eu fui ver como ele é feito, fui ler a respeito, e eu vi que o artesanato dos povos terena, que é o povo da minha região, é feito com três tipos de barro: o barro preto, para dar forma, o barro vermelho, para dar cor, e o barro branco para dar detalhe, e tudo isso é queimado de um jeito que, assim que ele sai da queima, o barro fica vermelho vivo. E isso é muito visual e fica muito resistente. Então eu incorporei isso como história de ficção científica inspirada em folclore, e não é o folclore de criaturas, e está de lá de propósito. Eu quis mostrar que dá para contar essa história. Vou até falar de um livro que eu nem gosto, o livro do Junior Salvador, chama Contos Folclóricos, Contos Fantásticos de Folclore. É uma coisa bem genérica. Eu já fiz uma resenha dele no meu site e eu mostro que o Junior vacilou em vários pontos: ele bota lá o boto narigudo, sabe? Tudo aquilo que é erro de pesquisa mesmo. Ele bota um Curupira com uma espada, umas coisas assim que eu não gosto de nada. Mas o último conto eu gosto – é o conto que ele cria um personagem mítico para o folclore, inspirado no folclore, que é um menino amaldiçoado a só falar ditos populares, então ele fica enlouquecendo as pessoas porque tudo ele vai soltando um mito assim, tipo: “Ah, deus ajuda quem cedo madruga”, “Apressado come cru” e não sei o que, e ele fica repetindo isso o tempo inteiro a ponto de as pessoas ficarem malucas. E isso foi muito legal, porque ele se inspirou em um folclore, que é o adágio, que são os adágios populares, os ditos populares, os abusões, e transformou isso em uma criatura. Isso foi muito inovador, foi muito criativo. O outro companheiro, o Mil Mameluco, que tem um perfil agora bem grande no Instagram, começou a fazer brincadeiras assim, ele começou a desenhar na forma de monstro criaturas inspiradas em expressões curiosas, em expressões do tipo cara de cu, vamos dizer.

Leonardo: Ah sim, eu tenho acompanhado. Nossa, está muito legal isso. Muito criativo.

Andriolli: E aí ele faz o cara de cu. É um monstro assim. Ou então o pé frio. E aí o que é um pé frio? Aí ele faz um monstro, que é tipo um zumbi, com os pés ali que vão gelando a paisagem, e ele faz isso tudo desenhado no Paint com uma estética de cordel, de xilogravura, porque o Mil é do Ceará, e é muito legal, muito criativo. Então dá para a gente fazer muitas coisas, inclusive criaturas a partir de coisas não são criaturas no folclore.

Leonardo: Foi legal você ter falado isso aí, porque eu acompanho aí o Poranduba e, quando eu comecei a perceber que, nossa, realmente, está tendo coisas assim, eu pensei: “Será que os ouvintes estão curtindo?”, era uma coisa que fazia tempo que eu estava para te perguntar. Porque eu vou falar, eu sou do time que quer essas coisas além dos mitos, porque os mitos eu já gosto, então eu sei onde pesquisar, procurar. Então são coisas que eu não iria atrás. É uma coisa que é legal saber, mas eu não pararia para ir atrás, para “O que eu vou pesquisar?”, eu nem saberia do que ir atrás em si, e isso do Poranduba está ajudando bastante nisso aí. Então isso que eu acho legal. Claro que eu entendo o pessoal pedir também dos personagens e acho que todo ouvinte está sempre no direito de pedir conteúdo.

Andriolli: Sim, sim. Eu vou fazer. Eu já prometi ali que eu vou contar algumas histórias, vou fazer alguma mudança ali no programa, acrescentar algum quadro, sei lá, onde eu possa ler coisas para eles, fazer alguma coisa assim que é mais voltada para contação de histórias mesmo, que eu sei que eles gostam. Mas não dá para negligenciar essa parte. A gente já teve lá viola – lembra do programa de viola, Leo?

Leonardo: Sim, sim.

Andriolli: Aí você fala assim: “Viola caipira? Que chato”, é chato? E os pactos com o demônio que o violeiro faz? Poxa, isso inspira muito, gente.

Leonardo: Isso é legal, porque esse eu acho que, talvez, dos episódios seja o maior exemplo de que eu não faria ideia, se eu fosse parar para pesquisar, sabe? Não faria ideia. Aí quando eu vi esse aí do pacto, nossa, que maneiro, porque, sinceramente, essa questão do pacto, para mim, acho que é uma coisa universal, porque em várias culturas você vê isso aí, sempre a questão da música, então é muito legal ver uma versão bem brasileira disso, que é usando a viola e tudo. Isso eu achei muito legal. E é interessante também nesses episódios por questão da entrevista, então você está pondo ali a pessoa que está inserida nisso, você não só pesquisou e está falando ali da sua pesquisa, mas você está… alguém que está tendo realmente a vivência, que teve a vivência disso e está passando, então isso é legal também.

Andriolli: É, e até foi por isso que eu criei o Poranduba. Eu criei o Poranduba alguns meses depois de ter feito o Popularium, temporada um, lá no Mundo Freak. Eu fiz o Popularium em 2017 e aí em 2018 eu criei o Poranduba, em março de 2018, porque o Popularium foi muito bom, muito legal, mas ele, além de dar um trabalho absurdo ao ponto de não poder ser feito periodicamente, com a frequência necessária, ele era um monólogo. E no Poranduba também tem monólogos, mas ele é muito focado em diálogos. Então eu quis trazer essas pessoas para que os ouvintes conhecessem, então essa é uma ótima oportunidade não só de eu sentar e bater um papo ali, conhecer pessoas incríveis, que eu sempre admirei… por exemplo, um dos programas, para mim, mais importantes é o do Daniel Munduruku. Eu sempre quis falar com o Daniel e ali eu pude sentar – a mesma distância – durante uma hora conversando com ele sobre temas que me são tão caros. Poxa, é muito importante. E talvez os ouvintes já tenham ouvido falar em Daniel Munduruku, mas sabem o que ele pensa, o que ele fala, o que ele escreveu. Então eu poder levar isso para eles… eu sei que eu estou instigando muita gente ali.

Leonardo: Bacana.

[Trilha sonora]

Leonardo: Você tinha citado alguns contos aí do seu livro. Você falou que foi para gêneros diferentes. Isso aí me lembrou uma coisa que tenho a impressão de… tempos atrás, para mim, parecia que as produções de folclore estavam indo do infantil, que as pessoas ficam com essa imagem de que folclore é algo que só dá para fazer algo infantil, então parecia que estava indo disso para o terror. Não sei se é uma impressão minha ou se isso tem mesmo, mas parecia que as pessoas…

Andriolli: Teve mesmo.

Leonardo: Teve mesmo, não é? Que as pessoas, para fugir do “Ah, folclore não é infantil, então como que a gente vai fazer? Vamos para o terror”, é sempre indo para algo sombrio. E até ia confirmar com você se teve isso aí ou se era só impressão minha. E isso aí passou? Você acha que já está mais plural mesmo? Você acha que isso foi meio ruim? Como você pensa?

Andriolli: Durante muito tempo, claro, a literatura, as criações artísticas inspiradas em folclore eram sempre ligadas ao universo do infantil, muito por causa do sucesso tanto de Monteiro Lobato quanto de Ziraldo, com a Turma do Pererê, que formou ali uma outra geração, a partir da década de 60, de pessoas que tinham essa relação de cultura pop com o Saci – foi o Ziraldo. Isso também era muito castrador e era também o lugar da fantasia no Brasil. Uma escritora que eu gosto muito, que é a Simone Saueressig, fala… na década de 80, ela escreveu seu primeiro livro, que é uma ficção inspirada em folclore, chama A Noite da Grande Magia Branca, e todos os editores falavam assim: “Isso aqui, vamos editá-la como livro infantil”, ela falou: “Mas não é, isso aqui é fantasia”, falaram assim: “Claro que é, olha aqui, tem Boitatá, tem não sei o que, é infantil”. Para o próprio escritor, era uma imposição do mercado, então, mesmo que ele não quisesse, ele não conseguia fazer diferente. Aí chega a virada ali dos anos 2000, quando a fantasia no Brasil começa a ganhar espaço, e aí as pessoas vão fazer rompimento direto entre o que era infantil para o que é o exato oposto disso, e muitas vezes vai ser o terror, às vezes vai ser transformando ali em um monstrão, aquela coisa toda estilizada. E teve seu lugar, eu acho tedioso, a bem da verdade, eu não aguento mais ver sacis gigantes, marombados, cheios de espinho e foices e correntes. Eu acho legal, já deu. Muito disso é da estética God of War. As pessoas tinham muito esse desejo de “Ah, agora eu vou fazer o God of War brasileiro, eu quero fazer esses monstros aqui gigantescos e eu quero poder destroçá-los”. Aí fizeram, foi muito divulgado. Guerreiros Folclóricos, por exemplo, é um jogo que está aí há cinco, seis anos e nunca saiu e eu sempre pergunto lá para o Joe Santos, que é o diretor, quando é que sai e ele fala: “Esse ano sai” e nunca sai. De certo não vai sair, mas a gente fica na torcida. E, se sair, também já sai ultrapassado. É uma estética que já deu o que tinha que dar. Acho que a tendência agora – até gravei um programa sobre isso um tempo atrás, que era O Futuro da Ficção Folclórica – vai ser audiovisual. Pelo audiovisual a gente vai ter muita variedade de histórias. A gente vai ter já, pela Netflix, a série Cidades Invisíveis, com roteiro do Raphael Draccon, que é uma trama de detetive inspirada em folclore brasileiro, então isso aí já vai… não que não existissem histórias de detetive antes, inclusive eu conheço umas cinco pelo menos de detetive folclórico, só que em uma grande mídia com um nome grande por trás, acho que isso aí vai abrir muito os horizontes das pessoas. Então dá para fazer isso; não precisa fazer outro Percy Jackson, Harry Potter, inspirado em folclore; não precisa também fazer um Massacre da Serra Elétrica inspirado em folclore. Dá para criar com bastante liberdade. Acho que isso é bem importante.

Leonardo: Falando já dessa parte das produções, você falou aí que essa acho que seria uma produção maior, como que está a questão das editoras? Porque eu fico pensando assim: escritores, você, sendo escritor e divulgador de conteúdo, beleza, o pessoal está empolgado para falar de folclore, gosta disso, então isso tem aumentado. Mas aí eu fico pensando: e as editoras estão preparadas para isso? Elas estão com essa cabeça também? Porque, querendo ou não, o criador, o escritor muitas vezes faz porque gosta daquilo; agora, a editora realmente vai ter a parte do dinheiro envolvido. Se de repente ela achar que aquilo não dá lucro – poderia dar e a editora em si achar que não, ou vice e versa. Aí eu fico pensando como as editoras estão encarando isso. Você que já escreveu, você chegou a ver algo assim, como as editoras lidam?

Andriolli: Não sabem lidar e não sabem há muito tempo. No podcast que eu fiz com o Ricardo Azevedo, que é um grande nome da literatura inspirada em folclore, que ele transitou por várias editoras, tem uma produção longuíssima e adesão em escolas a rodo, ele fala assim: “Eu não escrevo para crianças. Eu escrevo livros que podem ser curtidos tanto por crianças quanto por adultos, mas sempre me colocam nessa caixa da literatura infantil”. Ele consegue não ser isso, porque ele é um grande nome já no mercado. Mas e nós, que estamos entrando agora? Então o meu livro, por exemplo: qual é o gênero do meu livro? Ele não tem um gênero. Eu sei que tem leitores que gostam muito dos contos ali que têm mais ficção científica, não sei o quê. Eu até fiz uma versão atualizada do Mitomania, que saiu na Mitografias, e está muito elogiada, o pessoal está adorando, e tem gente que fala assim: “Ah, gostei, mas não é para mim. Eu gosto mesmo é desses de drama aqui, eu gosto do Colecionador de Sacis, eu gosto do Cor-de-rosa”, que são aqueles que são mais dramas humanos. Mas então tem essa amplitude de público. Quem é meu público? É (inint) [00:45:31] história de folclore. E eu acredito, eu bato o pé que é um público grande, é um público que não importa, que mesmo que não curta tanto ficção científica, vai viajar junto comigo. Mas o mercado não é capaz de absorver isso. E outra coisa que o mercado também não é capaz de absorver é a controvérsia: então, que nem eu falei antes, essas discussões sobre os povos indígenas e o uso de folclore, isso com certeza vai afetar o mercado, e já está afetando, porque recentemente um livro que se apresentava como uma ficção folclórica, a editora – não é nem a editora, mas, enfim, a responsável ali pela produção editorial – remodelou o seu marketing, pediu desculpas por ter usado o termo folclore, e falou assim: “Ah, não vamos mais usar folclore, vamos usar lenda urbana”, que, por acaso, é folclore, e que, por acaso, não tem nada no livro – não vou dizer nada -, tem 10% do livro que é lenda urbana, porque o resto é no mato. Que lenda urbana é essa? Então há uma traição da própria narrativa, mas, enfim, é porque o mercado foge de controvérsia, então, se uma pessoa que não teve um like, um retweet nem nada, abriu a boca para falar contra, aí o mercado abaixa a cabeça; agora, se o autor pesquisou, fez consultoria, retrabalhou aquele conceito e tem claro o que significa, isso não interessa em nada se pode gerar alguma controvérsia. Então, sim, é bem complicado. O meu livro de contos ficou um ano em uma editora para fazer a avaliação, e aí eles falaram assim: “Ah, gostamos muito, mas você tem mais alguma coisa?”. Pelo “Tem mais alguma coisa” quer dizer assim: não chegou lá, não encantou. Então aí eu resolvi lançar por conta, eu não abreviei. Não tinha desistido de primeira, tentei os caminhos tradicionais, não deu. Lancei por conta para mostrar que tinha público. Então espero também ser capaz de conseguir aí novas entradas para o futuro.

Leonardo: Eu, falando como apreciador desse conteúdo, acho que pelo menos no geral estamos passando aí os primeiros passos de agora ter mais escritores, ter mais conteúdo, mas agora acho que veio o próximo passo, da questão do mercado, que, não sei, talvez seja mais difícil, mas pelo menos tem gente criando conteúdo disso.

Andriolli: É, e muita gente fala, e voltaram a falar para mim, assim, falaram: “Andriolli, você já pensou em fazer um Catarse para lançar essa obra?” ou então “Você já pensou em fazer um box impresso da trilogia Mitografias? Com certeza vira”. Com certeza já não sei, mas acho que vira. Então são coisas que a gente vai construindo, formando um público de interesse, e esse público de interesse também vai chegar lá no mercado. Então, se vocês gostam, divulguem, falem mesmo, exponham aí nas redes sociais, mostrem que vocês têm interesse, porque as pessoas estão atentas a isso, de verdade. Inclusive, quando você manda formulário para inscrição em editora, tem lá assim: “Qual é a rede social que você mais usa e tem mais engajamento?”, porque eles querem saber esse retorno, esse diálogo direto que você tem com o público.

Leonardo: Sim, é, é interessante mostrar isso para o ouvinte aqui, que a divulgação do seu livro ou de quaisquer outras obras aí desse tipo não é só para mostrar para o autor: “Olha, autor, gostei, que legal o que você fez”, deixar o autor feliz; é também para mostrar para o mercado, para as editoras em geral que: “Olha, a gente é público disso, então, se lançar algo, a gente consome”. Também ajuda nisso.

Andriolli: Com certeza. Eu perguntei lá para os apoiadores: “O que vocês querem agora? Já fiz documentário, já fiz livro, o que agora de folclore?”, e aí teve, claro, história em quadrinho, muita gente ali, e aí teve até “Quero animação”, “Eu quero coisas grandes mesmo”, que eu não consigo dar enquanto uma pessoa física, produtora individual, mas o que eu posso fazer é ir estimulando e construindo esse público, essa voz coletiva de gente que vai inspirar o mercado a gerar esse tipo de conteúdo. Inclusive, tem agora uma campanha de Catarse em captação que chama Eu sou Caipora, que é uma campanha de uma animação que o diretor era um cara que acompanhava o Folclore BR, acompanhava o Colecionador de Sacis e tal há uns três anos e ele falou: “Um dia eu vou trabalhar com esse povo, não sei o que”, e aí ele montou o estúdio dele e chamou o Awvas, que é do Folclore BR, para ser o produtor desse filme, e, sendo produtor, ele é capaz de tomar decisões muito importantes, do tipo como é que a gente vai representar esse Caipora, como é que a gente vai ter esse diálogo com um mito que é originalmente indígena, mas que também depreendeu, então tem muitas pessoas do interior, os avós de muitos ouvintes, que já devem ter visto Caipora, tenho certeza. Então é uma coisa que não está restrita a povos indígenas mais, mas é preciso trabalhar isso, entender isso, saber como levar isso para a mídia, e o Awvas tem todo esse know-how. Então fico muito feliz que um produto grande como esse esteja nas mãos dele. Então deem uma olhada aí, pessoal, apoiem o Eu sou Caipora. Eles estão pedindo 48 mil reais e já tem um teaser lá muito bem-feito, vocês vão se impressionar.

Leonardo: Que legal, vou deixar o link aí também. Bacana.

[Trilha sonora]

Leonardo: Agora, então, a gente chega aí no seu livro. Já que a gente já falou pouquinho aí do que você lançou, mas agora vamos nos aprofundar. Primeiro, para deixar claro para o ouvinte, os contos que tem ali, todos já tinham sido publicados ou tem algum que é a primeira vez, que é inédito?

Andriolli: Tem contos inéditos. Os três contos do Mitografias estão lá editados. Corrigi coisas. Por exemplo, no primeiro conto que eu escrevi, que foi o Sem Cabeça – o Sem Cabeça é muito elogiado até hoje, mas eu coloco um Jurupari em Minas Gerais, e o Jurupari não existe em Minas Gerais, e eu me arrependi muito de ter colocado. E é uma menção de dois parágrafos. Esse tipo de coisa que eu corrigi, que eu voltei lá e falei: “Não, não tem por que ter Jurupari aqui”, então fui lá e corrigi. Então eu retrabalhei esses três contos, que são o Sem Cabeça, que é uma história de detetive investigando um crime de mula sem cabeça e esse detetive é um padre jesuíta; tem o Mitomania, que é um conto futurista, distópico, em que o último membro do Esquadrão Saci tenta cumprir a sua última missão e, para essa missão, ele conta com a ajuda de uma inteligência artificial, então os avós são as inteligências artificiais que ajudam os membros da resistência desse mundo. Então, percebam, é uma ficção que tem tudo ali de elementos muito particulares das nossas narrativas folclóricas, então isso vai estar sempre em diálogo. E o outro conto do Mitografias, que foi da última, que é Os Três Desejos, em que um rapaz vai fazer um pacto, ele vai para uma encruzilhada para fazer um pacto com o Saci e o Saci diz que tem um preço, e o preço para ele é não a sua alma, mas que, em vez de um desejo, ele realize três. Então por que o Saci pede isso? Porque ele já sabe que alguma coisa vai dar errada ali, então o Saci já está armando, fazendo esse planejamento futuro ali do que vai acontecer. Então esses três contos estão lá e inclusive é interessante, eu acho que eles fazem muito mais sentido lá do que nos Mitografias, porque lá tem toda uma estética minha, então eles entram ali em diálogo com muito mais facilidade, mas ainda assim vale a pena vocês conhecerem os livros do Mitografias, gente. Baixem lá. E aí tem outros quatro contos, que são O Colecionador de Sacis, que é a história de uma mulher que visita a casa do seu pai pela primeira vez desde que ele se suicidou, e esse pai era um colecionador de sacis, então a casa está cheia de garrafas, aparentemente vazias, que ele jurava que tinha um saci dentro de cada uma. Então ela vai visitar essa casa e vai percorrer pelas garrafas e, pelo percurso das garrafas, ela vai relembrando a memória do pai. O outro conto é Cor-de-rosa, é uma história de romance entre uma pessoa e um boto, e é uma história que eu tento localizá-la bem, então é uma história que se passa no Pará, tem expressões paraenses, tem toda uma entrega de paixão que as pessoas se identificam muito, então gostei bastante de ter feito o Cor-de-rosa. Tem o Alma do Povo, que é uma história de Pedro Malasartes, inspirada, que Pedro Malasartes estava segurando a porteira que sustenta o céu e, se ele soltar, o céu vai cair. Então ele está lá amaldiçoado, tendo que segurar essa porteira, até que chega um professor universitário pedindo uma informação. Então aí o conto é um conto de diálogo entre esses dois personagens. E, por fim, o Retomada, que é esse conto que encerra o livro, onde eu penso muito naquelas discussões de cyberagreste, sertão punk, não sei o que. Eu imagino um cybercerrado. Eu coloco a minha terra, Mato Grosso do Sul, no futuro também distópico, coordenado pelos bispos, e, dentro desse universo distópico, dois membros da resistência estão conversando, sendo que um deles está substituindo o seu braço metálico por um braço de cerâmica. Ele vai conversando do porquê ele está fazendo essa troca, por que esse braço de cerâmica é tão representativo e o que ele vai fazer com isso agora, já que ele está com essa grande bandeira vermelha no seu braço. Ele é um conto bem temático, para mostrar possibilidades. Então não tem combate. É diferente do Mitomania, que tem uma luta ali, uma guerra que mobiliza um monte de gente; no Retomada, não. Retomada é de introspecção. Os dois personagens estão conversando e pensando, mas o pessoal está gostando também disso, por causa da inovação. É bem diferente.

Leonardo: Bacana. Eu fiquei curioso, ainda não peguei para ler. Eu já comprei, mas eu queria gravar isso aqui antes de ler, porque não queria perguntar nada de nenhum específico, mas, como os três do Mitografias eu já conheço, já li, eu estou curioso para ver esse da mula sem cabeça, porque você falou que reescreveu, e, dos três que você fez para as antologias, esse foi o que eu mais gostei. Então estou curioso para ver como ele está revisitado.

Andriolli: Foram poucas mudanças, são coisas me incomodavam só, tipo uma expressão, uma palavra. Teve um conto, por exemplo, que eu tinha escrito… o que eu coloquei lá? Eu coloquei retardado. Um está conversando com o outro e fala: “Ah, larga de ser retardado”, e uma coisa bem tranquila, só que, estando em diálogo, hoje, eu sei que não é legal, então eu troquei. Não fazia sentido. São coisas que eu acho que cabem melhor, então eu incorporei todas essas discussões e levei para o livro, e é um livro que está falando de muita coisa. Você vê, no primeiro conto eu falei: “O cara se suicidou”, não sei o que, tem relações familiares, estão muito presentes. Então é um livro para jovem. Eu o marco como para 12 anos para cima. E fico muito preocupado quando as pessoas falam assim: “Comprei para ler para os meus filhos”, “Qual é a idade do seu filho?”, “Sete anos”. Meu deus do céu, não.

Leonardo: Mas está marcado no livro.

Andriolli: Está marcado, mas ninguém olha. Isso que é (inint) [00:58:56].

Leonardo: Você fez a sua parte.

Andriolli: Falei assim: “Lê primeiro”. É. Compra, é barato, é 99 centavos de dólar, isso dá quase seis reais. Lê primeiro, se inspire nas histórias, conte para o seu filho. Acho que dá para aproveitar algumas coisas assim, mas ler para criança não dá. Isso é muito do que a gente tinha falado antes, que história de folclore é só para criança. Não é.

Leonardo: E queria que você falasse um pouquinho da produção do livro, principalmente no sentido assim: quando você falou: “Ah, chegou a hora de lançar”? Primeiro você tinha tentado a editora, mas aí ficou parado.

Andriolli: Porque eu faço as coisas no impulso, então em julho completou um ano, entrei em contato com a editora, eles deram essa assim: “Ah, manda mais coisa. Tem mais coisa?”, talvez tenha, mas também… esperar mais um ano? Aí eu falei: “Não, então agora eu vou lançar”, e aí eu entrei em contato com o Vitor Wiedergrün para fazer a capa, e a capa foi mais uma homenagem que eu fiz, eu falei assim: “Eu quero nós cinco do FolcloreBR: eu, Mikael Quites, Anderson Awvas, Ian Fraser e Lorena Herrero”. Cada um de nós trabalhamos da nossa maneira para a divulgação folclórica: eu dessa maneira muito mais ampla, como a gente já viu; a Lorena, que faz uma produção muito constante de ilustrações inspiradas no folclore, na página Het the Pumpking – muita gente deve conhecer por causa do Folktobers, guias dos monstros brasileiros que ela faz, já fez durante três anos seguidos, então ela fez 90 mitos brasileiros já nessas ilustrações, tirando os quadrinhos que ela faz e tal. Lorena é demais. O Anderson Awvas, que é um comunicador, designer, está aí encampando essa animação que eu falei, está organizando as lives do FolcloreBR, está fazendo um monte de coisa. O Ian Fraser, que é escritor, já lançou Araruama, que é uma ficção heroica de inspiração indianista; está lançando agora o Noir Carnavalesco, que é uma história de detetive e folclore. E o Mikael Quites, que é um cara que está trabalhando muito de perto com povos indígenas, está ilustrando as criaturas da maneira como eles descrevem. Ele mora lá em Manaus, então ele vai para o Centro de Medicina Indígena, pergunta: “Ah, como é que é o Boraró?”, que é um parente do Curupira. Aí ele vai lá e desenha o Boraró e mostra para o indígena, o indígena aprova, não sei o quê. E homenageei a nós todos na capa do livro fazendo essa estética do Vitor, que é uma estética que ficou muito famosa nas ilustrações do cyberagreste, que é um futuro distópico, mas com influências cyberpunk, tudo mais, então a gente botou tudo lá. Ficou muito divertido. Pedi para a Karen Alvares fazer a diagramação do livro e corri para fazer essa última leitura, porque eu já estava lendo, e aí eu falei: “Mas agora, para publicar, eu preciso ler para valer”, então li de cabo a rabo tudo e falei: “Pronto, é o que deu”. Pensei até em escrever coisa nova, mas eu tinha lambido tanto a cria que… deixa para o próximo.

Leonardo: Bacana. Legal você ter citado o restante do grupo, do pessoal, que quem sabe aí futuramente a gente está chamando-os para alguns episódios aí, que eu gosto para caramba. Nesse ponto, eu estou bem no lugar de espectador ali, fico assistindo às lives e tudo, então é o pessoal que eu acompanho bastante, então é legal, quando der, chamá-los também.

Andriolli: E está surgindo coisa. Você vê: o Mikael também está em um projeto grande aí, que a gente não pode divulgar ainda, mas vai ser muito legal se der certo. Já está dando certo, mas, quando sair, vai ser muito legal. Enfim, a gente está chegando lá, e quem sabe as coisas que vão surgindo aí nos meses a seguir. Sempre vem novidade.

Leonardo: Algo referente ao seu livro que pode surgir é a versão física: e aí?

Andriolli: O pessoal pede, está pedindo muito. Eu falei assim: “Olha, tem que dar certo essa versão digital para a gente fazer uma impressa”, e por enquanto está dando certo, eu gostei bastante. Fiquei a primeira semana inteira praticamente na lista dos mais vendidos, número um em antologia, número um em mitos e lendas para jovens, mitos e lendas para crianças – e essa parte me preocupava um pouco -, estava também em fantasia. Eu fiquei bem colocado também em fantasia. Enfim, rendeu bastante a primeira semana, e agora o pessoal está lendo, então estão vindo as resenhas, cada vez mais. Então, se você já leu, também resenhe. E eu fiquei feliz, porque eu não achava que eu ia ganhar nada de direito autoral, e até ganhei um dinheirinho (inint) [01:04:03].

Leonardo: Ah, que bom.

Andriolli: Fiquei contente. Então não descarto, sim, a versão física, mas com certeza, gente, a versão física vai ter que ter mais contos, porque ele é um livro que ficou bem enxuto. Ele ficou com 65 páginas de Word; se e gente o fizer impresso, eu sei que isso duplica, vai para 120 páginas, mas ainda assim é um livrinho muito fino, então eu com certeza acrescentaria outros contos nele, e outros contos para tentar ampliar esse espectro, então quero trabalhar ainda, na literatura, com benzimento, eu quero trabalhar na literatura ainda com cantigas de roda, que eu acho muito legal, quero fazer uma história inspirada em cantiga de roda. Já pensou? Pode ser um clima de terror, pode não ser. Dá para pensar em muita coisa.

Leonardo: Bacana, torcendo aí para vir, para dar certo, para fazer a versão física. Inclusive, esse episódio aqui é para realmente ajudar bastante nisso, então, divulgar. Então, ouvinte, se você não conhecia isso, se você está indo comprar o livro por causa desse episódio, comente aí que eu quero ver o pessoal indo aí. Quero saber quem está… leitor novo.

Andriolli: O pessoal ainda pergunta assim: “Ah, se eu ler pelo Kindle Unlimited, pode?”, pode, por favor. O Kindle Unlimited, para quem não sabe, você assina um serviço da Amazon por um valor bem baixo – esses tempos aí estava, sei lá, 9,90 em promoção, por mês, e aí você pode baixar até dez livros à vontade gratuitamente, que estejam no Kindle Unlimited. E o meu livro está, e eu recebo por página lida. Então, se você baixou e leu, cada página que você vai lendo, vão uns centavos ali para a minha conta. Você aí também, dono de editora, agente literário, dá uma olhada lá, vê o que eu estou fazendo, porque quem sabe a gente vira outros projetos pela frente? Tem outras coisas que eu estou montando. Eu nem esperava, Leo, que esse fosse ser o meu primeiro livro lançado, porque eu estava fazendo desde janeiro uma outra coisa e falei: “Ah, acho que isso aqui vai virar”, e aí, no final, acabou saindo O Colecionador de Sacis primeiro.

Leonardo: Bom que tem mais projetos, então.

Andriolli: É, estou sempre inventando moda, e isso que é importante, a gente continuar criando. Até as pessoas estão falando assim: “Eu queria uma história com os personagens da sua capa”. Aí eu falei: “Putz, não sei se vai ter”, mas eu quis muito fazer, porque teve um divulgador de uma editora que falou para mim uma coisa que nunca saiu da minha cabeça. Ele falou assim: “Cara, esse nome, Colecionador de Sacis, é muito bom, porque a gente pensa logo em um Indiana Jones, um cara que vai investigando e não sei o que”, e eu aí eu gostei muito desse toque. Como eu falei, o meu conto, O Colecionador de Sacis, é uma história muito menos apoteótica, é muito mais dramática do que esse Indiana Jones que ele estava sugerindo, mas é uma coisa divertida, então eu quis levar essa brincadeira para a capa, e realmente inspirou as pessoas. Todo mundo quer ver… teve até um cara que falou assim…

Leonardo: É um grupo de rpg ali naquela capa.

Andriolli: E que eu estou com garrafas de saci na bandoleira, assim, aí ele falou assim: “Eu te imaginei estilo Ben 10: para cada problema você puxa um saci diferente para resolver ali, quebrar uma pedra, subir em não sei o quê. É muito bom.

Leonardo: Muito legal a capa, ficou muito legal. Bom, é isso, e então alguma consideração final, Andriolli?

Andriolli: Duas coisas: a primeira – as pessoas às vezes falam: “Ah, eu sou brasileiro, sou escritor brasileiro, criador de conteúdo brasileiro, eu sou obrigado a fazer uma história de folclore?”, deus me livre, não. Ninguém é obrigado a nada, porque, primeiro, as pessoas, não sendo obrigadas, já fazem histórias às vezes que são muito problemáticas, imagine na obrigação. Então, não, você não é obrigado, você não precisa escrever sobre saci só porque supostamente está na moda e eu não sei que moda é essa, porque, (se estivesse) [01:08:25] na moda, eu teria saído por uma editora mesmo. Então ninguém é obrigado; você tem que fazer por afeto e por vontade de se conectar com esse sentimento muito agregador que o folclore nos traz, que é nostálgico sim, mas que está dizendo muito sobre o nosso presente e direcionando o nosso futuro, então faça porque gosta, faça porque quer revisitar isso, quer lembrar da sua família, quer lembrar… não precisa nem ser só da sua família, mas da sua comunidade. Então retorne a isso. Se isso for uma coisa boa, uma lembrança agradável para você, invista e transforme isso em história. Boto fé nisso. Agora, se você tem interesse em saber mais sobre como a gente está usando folclore, como a gente está se relacionando com essas coisas, não deixe de acompanhar o meu trabalho no colecionadordesacis.com.br, no podcast Poranduba, no podcast Popularium, no meu canal do Youtube. Tem sempre material saindo em tudo que é lugar. E, se você leu o meu livro e gostou, saiba que no dia 24 de setembro, completando aí um mês do lançamento dele, eu vou fazer uma live só para falar do livro. Então vai ter o link aí já, eu vou passar para o Leo depois. Se você clicar ali na data, você vai poder discutir comigo, falar qual é o conto que você mais gostou, o que significa aquele símbolo, o que significa aquela palavra que você não entendeu. Vamos estar lá para bater esse papo. Vai ser um prazer te receber e ver como essas histórias te impactaram.

[Recado] Leonardo: Oi, ouvinte. Só uma pausa aqui para corrigir: o Andriolli acabou citando a data errada da live. O correto é dia 26, é um sábado, mas fica tranquilo. É só acessar o link aí no post que você já irá para a live.

Leonardo: Maravilha. Então, ouvinte, espero que tenha curtido o episódio. Esse episódio aqui eu fiz questão, porque a questão da divulgação do folclore era algo que eu queria abordar, queria perguntar para o Andriolli em si o que ele estava achando, e, quando ele lançou o livro, eu falei: “É o momento certo, porque aí eu aproveito e a gente divulga isso aí”, que eu acho extremamente importante. Ao invés de eu apenas falar em algum episódio ou outro sobre o livro ou só nas redes sociais, falei: “Vamos deixar o autor falar e divulgar a própria obra”

Andriolli: Valeu, Leo, muito obrigado. Foi na minha primeira participação aqui, em um podcast chamado O Colecionador de Sacis, você lembra?

Leonardo: Sim, sim.

Andriolli: Faz uns quatro anos pelo menos, eu acho, que, eu falando aqui, eu recebi depois várias mensagens de ouvintes muito legais, um deles me chamando até para pensar em uma palestra, que nunca aconteceu, mas me inspirou a pensar em palestras. Então acabei fazendo muita palestra e depois virou todo um trabalho à parte. Inclusive, não falei disso, mas divulgo aqui o meu outro site. Se você quer conhecer a parte institucional, www.consultoriafolclorica.com.br. Lá você vai ver as palestras, cursos que eu dei já sobre folclore, vai ver sobre leitura crítica, mentoria. Então você tem uma obra pronta? Quer começar uma obra? Entre em contato. Então já estou fazendo, o pessoal já me chamou para discutir sobre HQ, sobre conto, sobre romance, sobre novela, sobre poesia, sobre ilustração, então estou vendo que tem muita gente me procurando para falar sobre folclore em várias mídias. Fiquei muito feliz com isso. Então, se você tem aí também projetos, pode entrar em contato.

Leonardo: Bom, ouvinte, é isso. Espero que tenha gostado. Vou deixar todos os links aí e vai lá, corra, compre e leia o livro – e comente, diga aí o que você achou do livro. Então é isso, até mais.

Andriolli: Valeu, pessoal.

[Trilha sonora]

[01:13:59]

(FIM)