Os Titãs

Traduzido e Adaptado por Rafael Brito

Na mitologia grega, os titãs (em grego Τιτάν, plural Τιτᾶνες) estão entre os deuses que se opõem à tentativa de ascensão de Zeus e dos demais “Olímpicos” ao poder. Outros foram os Gigantes, Tífon e Ofíon, sendo que este último, também chamado Ofioneu (“serpente”), governara o mundo ao lado de Eurínome, antes que ambos fossem depostos por Cronos e Réia, conforme certas fontes.

O mito grego da guerra dos Titãs entra numa classe de mitos similares ao longo da Europa e do Oriente Próximo, em que uma geração ou grupo de deuses se opõem ao(s) dominante(s). Às vezes, os deuses de uma geração mais antiga são suplantados. Outras vezes, os rebeldes perdem, e, então, são ou completamente destituídos de seus poderes ou incorporados ao panteão. Exemplos de tais confrontos são: as guerras dos Aesir com os Vanir e os Gigantes na mitologia escandinava; o Enuma Elish babilônico; entre outros.

Os gregos da era clássica possuíam vários poemas sobre guerras entre deuses e Titãs. O mais famoso (e o único remanescente) é a Teogonia, atribuída a Hesíodo.

Os Titãs em Hesíodo

Na Teogonia de Hesíodo, os doze titãs, tal como os Hecatonquiros e os Ciclopes, surgem como filhos de Urano, o Céu, e Gaia, a Terra.

Urano tinha sua descendência como monstruosa, assim, prendeu-os nas entranhas da Terra. Mas Cronos, encorajado por Gaia e ajudado pelos Hecatonquiros e Ciclopes, sobrepuja o pai, castrando-o e proclamando-se o novo senhor dos deuses, com Réia como sua esposa e rainha.

Cronos castra Urano

Réia dá a luz a uma nova geração de deuses, filhos de Cronos. Este, então, engoliu-os um a um, obedecendo a um acordo com seu irmão mais velho, Titão. Cronos controlaria o universo, mas seus filhos não poderiam fazê-lo, garantindo que apenas a descendência de Titão tivesse esse direito. Apenas Zeus é salvo. Réia, em seu lugar, dá a Cronos uma pedra enrolada em suas vestes para Cronos engolir, escondendo o deus infante em Creta, onde ele foi alimentado com o leite da cabra Amaltéia e criado pelos Curetes.

Uma vez que Zeus alcança a maioridade, finalmente subjuga Cronos através da força, forçando-o a vomitar as outras crianças – que estavam ansiosas por se vingar do pai. Na guerra que seguiu, Zeus foi ajudado pelos Hecatonquiros, Gigantes e Ciclopes. Os Titãs lutaram ao lado de Cronos, não desejando se submeter ao domínio de Zeus, colocaram o monte Pélion sobre o Ossa, para que pudessem atacar o Olimpo. Apesar dos fortes adversários, Zeus e os outros deuses tiveram êxito, exilando os Titãs no abismo de Tártaro. Desde então, Zeus comandou os céus, e seus irmãos Posêidon e Hades, controlavam o mar e o submundo, respectivamente. A Terra seria regida por todos os três.

Ainda assim, os antigos deuses deixam sua marca no mundo. Alguns deles, como Mnemósine e Métis, que não haviam combatido os Olímpicos, tornaram-se personagens importantes na nova geração do poder. Os Titãs também deixaram uma considerável descendência, alguns dos quais também chamados de Titãs, notavelmente os filhos de Jápeto, Prometeu, Epimeteu, Atlas e Menoetius.

Muitas fontes antigas seguem a mesma linha de Hesíodo, com variações secundárias, Apolodoro conta Dione como uma décima terceira Titã.

Os Titãs em outras fontes

Hesíodo não é, entretanto, a última palavra sobre os Titãs. Fragmentos remanescentes da poesia Órfica em particular preservam outras variações no mito.

Em um texto Órfico, Zeus não toma simplesmente o poder de seu pai pela violência. Ao invés, Réia serve um banquete a Cronos, no qual este se embebeda. Zeus o acorrenta e, então, o castra. Em lugar de ser confinado no Tártaro, Cronos é arrastado, ainda bêbado, para a caverna de Nix, onde continua a sonhar e profetizar por toda a eternidade.

Outro mito referente aos Titãs que não está na obra de Hesíodo gira em torno de Dionísio. Em algum período de seu reinado, Zeus abdica de seu trono em favor do infante Dionísio, que, tal como Zeus, fora criado pelos Curetes. Sabendo disso, os Titãs decidiram matar a criança e tomar o trono para si, pintaram as próprias faces de branco com gesso, distraíram Dionísio com brinquedos, e, então, desmembraram-no, fervendo e assando seus membros, os quais devoram em seguida. Zeus, enfurecido, fulmina os Titãs com seu raio, Atena conserva o coração do jovem deus em uma boneca de gesso, da qual é feito um novo Dionísio. Essa estória é contada pelos poetas Calímaco e Nonnus, que chamam este Dionísio de “Zagreu”.

Uma versão dessa estória, reportada pelo filósofo Neoplatonista Olympiodorus, escrita na era Cristã, diz que a humanidade surgiu da fumaça gordurosa desprendida dos corpos incinerados dos Titãs. Outros escritores mais antigos trazem a ideia de que a humanidade nascera do sangue derramado pelos Titãs na guerra contra Zeus.

A Batalha dos Titãs

A Batalha dos Titãs foi a guerra entre os Titãs e os deuses Olímpicos – é também conhecida como Guerra Titânica. A guerra foi predita a Cronos por Gaia e Urano porque Cronos havia se recusado a restabelecer a justiça depois de ter destronado o pai.

Os Titãs, liderados por Cronos, incluíam: Oceano, Ceos, Crio, Hipérion, Jápeto, Teia, Réia, Têmis, Mnemósine, Febe, Tétis, Prometeu, Epimeteu, Atlas e Menoetius. Os Olímpicos, liderados por Zeus, incluíam: Héstia, Deméter, Hera, Hades, Poseidon, os Hecatonquiros, os Gigantes e os Ciclopes.

Tendo conquistado a vitória depois de dez anos de guerra, os Olímpicos dividiram os espólios entre eles, garantindo a dominação dos céus a Zeus, do mar a Poseidon, e do submundo a Hades. Então, encerraram os Titãs derrotados no Tártaro. Entretanto, mesmo durante a guerra, as titânidas permaneceram neutras – assim sendo, não foram punidas por Zeus. Os Gigantes permaneceram aprisionados por certo tempo, até que Zeus os libertou, com exceção de Atlas.

Cronos

Foi o líder e (em alguns mitos) o mais jovens da primeira geração de Titãs. Sua mãe foi Gaia, e seu pai, Urano, a quem Cronos invejava. Urano aprisionara os filhos mais jovens de Gaia, os Hecatonquiros e os Ciclopes, no Tártaro, para que jamais tornassem a ver a luz do dia, e isso causava fortes dores a Gaia (o Tártaro era seu intestino). Assim, Gaia criou uma pederneira cinzenta e amoldou um grande foicinho, os quais uniu e deu a Cronos e seus irmãos, pedindo sua ajuda num plano de vingança. Somente Cronos aceitou a tarefa, e, assim, recebeu a foice de Gaia, que o preparou para a emboscada. No momento certo, Cronos surgiu em frente ao pai e castrou-o, arremessando os testículos para trás. Do sangue que caiu destes nasceram os Gigantes, as Erínias e as Melíades. Dos próprios testículos, que caíram no mar, nasceu Afrodite (conforme uma das mais comuns versões da lenda).

Após ter deposto Urano, Cronos re-encarcerou os Hecatonquiros, os Ciclopes e os Gigantes, pondo-os sob a vigilância do monstro Campe. Cronos e Réia tomaram o trono como rei e rainha dos deuses. Esse período foi chamado de “Idade de Ouro”, posto que não havia necessidade de leis ou regras, todos faziam o que era certo.

Com Réia, Cronos teve vários filhos: Héstia, Deméter, Hera, Hades e Poseidon, mas a todos estes engoliu, pois (segundo uma versão) soubera, por Urano e Gaia, que também estava destinado a ser deposto pelo próprio filho, tal como fizera com o pai. Mas quando Zeus, seu último filho, nasceu, Réia buscou Urano e Gaia para que encontrassem um meio de salvar o garoto – esta seria a vingança pelos atos de Cronos. Zeus nasceu em Creta, e em seu lugar, foi dada a Cronos uma pedra enrolada em vestes, que prontamente a engoliu. Réia, então, escondeu o deus infante numa caverna do Monte Ida, em Creta. A depender da versão da lenda

  • Ele foi criado por Gaia.
  • Ele foi criado e amamentado pela cabra Amaltéia, enquanto os Curetes, guerreiros (ou divindades menores) que serviam Réia, dançavam, gritavam e batiam palmas para que o barulho encobrisse o choro do bebê.
  • Foi criado por uma ninfa chamada Adamanthea. Sendo que Cronos governava a terra, os céus e o mar, ela o escondeu amarrando-o em uma corda pendurada em uma árvore – assim, o deus não estaria nem na terra, nem no céu e nem no mar, invisível para o pai.

Posteriormente, Zeus forçou Cronos a vomitar seus irmãos na ordem inversa em que os engolira: primeiro saiu a pedra, que foi colocada em Pytho, na região do Parnaso, como um sinal para os homens, depois, os irmãos de Zeus. Em algumas versões, Métis deu a Cronos um emético, que o fez vomitar os deuses, em outras, Zeus simplesmente abre o estômago do pai, de onde tira os irmãos. Depois, Zeus libertou os irmãos de Cronos, os Gigantes, os Hecatonquiros e os Ciclopes. Na guerra dos Titãs, Zeus, seus irmãos e os filhos de Gaia que ele libertou derrotaram Cronos e os outros Titãs, que foram confinados ao Tártaro. Ironicamente, Zeus também prendeu os Hecatonquiros e os Ciclopes no mesmo lugar.

Cronos foi adorado também como deus do milho, em decorrência de sua associação com a Idade de Ouro. Era o deus da colheita, dos grãos, da natureza – da agricultura em geral. Era normalmente representado com uma foice, com a qual fazia a colheita e castrara seu pai. Em Atenas, no vigésimo dia de cada mês (Hekatombaion), um festival chamado Kronia era realizado em honra a Cronos e para celebrar a colheita.

Na mitologia romana, a Saturnália era em honra de Saturno. Este festival se realizava no dia 17 de dezembro. Originalmente, durava um dia apenas, mas depois passou a uma semana. Durante a Saturnália, os papéis de mestre e escravo se invertiam, as restrições morais se abrandavam, e as regras de etiqueta eram ignoradas.

Em Roma, o Festival de Saturno acontecia na primavera. Segundo a Enciclopédia Britânica, este festival tornou-se o carnaval. O templo de Saturno encontrava-se no Fórum Romano, contendo o Tesouro Real.

Esposas e Filhos:

Com Afrodite
1. Pothos (a personificação do desejo)

Com Philyra*
1. Quíron (o centauro)

Com Réia
1. Deméter
2. Hades
3. Hera
4. Héstia
5. Poseidon
6. Zeus

Com mulher/deusa desconhecida
1. Veritas (na mitologia romana, deusa da verdade)

*(Na mitologia grega, Philyra era uma oceânida, filha de Oceano e Tétis. Era casada com Náuplios e tinha muitos filhos. Era a deusa do perfume, da escrita e do papel. Foi ela mesma quem ensinou à humanidade a fabricação do papel).

Chronos

Chronos (geralmente confundido com o Titã Cronos) era a personificação do tempo (seu próprio nome significa “Tempo” – khronos em grego). Surgiu do Caos primordial, e é normalmente descrito como um senhor de cabelos brancos e longa barba.

Réia

Outro Nome: Cibele (uma deusa frígia tida como sua contraparte)

Tradução: Fluir (menstruação; águas da nascente; Facilidade no parto)
Nome Romano: Ops

Réia era a deusa Titã da fertilidade do corpo feminino – seu nome significa “fluir”, o que presumivelmente se refere à menstruação feminina e também “facilidade”, no parto. É também a esposa de Cronos e rainha dos deuses Titãs.

Após a queda dos Titãs, ela entrou em disputa com seu filho Zeus, exigindo que lhe fossa dada sua devida metade dos céus, da terra e do mar. Zeus recusou sua demanda, ao que ela, furiosa, retirou-se para as montanhas da Frigia, juntamente com seus servos Coribantes, e cercou-se ppor criaturas selvagens. Dizia-se que ela guiava uma carruagem puxada por leões.

Réia era amplamente adorada como Mãe dos Deuses e como a grande Montanha Mãe, em cerimônias de danças selvagens (as quais eram acompanhadas pelo soar de címbalos, chocalhos e tambores).

Oceano

Oceano era o Titã (e o deus primevo) do grande rio Oceano, que circundava a Terra – a fonte primitiva de toda a água da Terra, incluindo rios, fontes, mananciais e nuvens de chuva.

Sua esposa era a deusa terrena Tétis, que espalhou seu fluxo pela terra através de galerias subterrâneas. Deles nasceram os Potamos (os Rios), as Oceânides e as Nefelai (Nuvens).

Oceano era também o deus que regulava o nascente e o poente dos corpos celestes: céu, lua e estrelas. Oceano se afastou de seus irmãos Titãs, e permaneceu neutro na guerra destes contra os deuses olímpicos. Ele era o filho titã mais velho de Urano, quem, tal como Tífon, fora arremessado do trono dos céus por Cronos.

Oceano foi descrito, como seus filhos (deuses dos rios), como um deus de um só chifre com um rabo de peixe-serpente no lugar de pernas. Em mosaicos posteriores, seu chifre de touro foi substituído por um par de garras de lagosta.

Tétis

Tradução: Avó, Enfermeira (têthê)

Tetis era a deusa Titã das fontes subterrâneas de água fresca, e também a deusa protetora da amamentação e do cuidado dos jovens. Com Oceano, gerou os Rios, as Fontes e as Núvens.

Era apresentada nas pinturas dos vasos gregos como uma mulher geralmente acompanhada pela deusa do parto, Eilítia. Nos mosaicos, Tétis aparece com um par de pequenas asas que decoram seus templos, sugerindo que ela é a mãe das nuvens de chuva.

Tétis era, provavelmente, identificada com a deusa Titã Eurínome, que certa vez fora a rainha dos Céus e que foi destronada e lançada por Cronos ao fluxo oceânico junto com seu marido Ofíon.

Ceos

Grafia Latina: Ceos; Pólos
Tradução: Dúvida, Questionamento (poios, Ceos); Eixo da abóbada celeste (polos)

Ceos era o deus Titã da mente inquisitiva (seu nome significando “dúvida” ou “questionamento”). Sua esposa, Febe, era a deusa Titã da mente profética. Juntos, podem ter sido a fonte primitiva de todo conhecimento, tanto o proveniente dos céus (Ceos filho de Urano) como o da terra (Febe, filha de Gaia).

Ceo

Também conhecido por Pólos, este filho de Urano (os Céus) era o eixo do norte ao redor do qual as constelações giravam pelo céu. Nos tempos antigos, esse ponto do céu era marcado pela estrela Alpha Dra, na constelação de Draco.

Seu neto, Apolo, o deus da profecia e da luz, dividia seu tempo entre Delfos, o templo no centro da Terra regido por Febe, e (durante os meses invernais) Hiperborea, a terra abaixo do eixo celeste no extremo norte (representado por seu avô, Ceos).

Febe

Tradução: Luminoso, Puro, Radiante (phoibos); Pureza (phoibaô); Profecia (phoibazô)

Febe era a deusa Titã do oráculo de Delfos, o centro da terra segundo a crença grega. Acreditava-se que ela falasse com a voz profética de sua própria mãe, a Terra. De modo similar, seu marido, Ceos, também conhecido como Polos (o eixo dos céus), era o deus Titã que proferia as predições de seu próprio pai, o Céu.

As duas filhas deste casal, Astéria e Leto, provavelmente representaram diferentes tipos de profecias (ao menos, assim era retratado na lógica da Teogonia de Hesíodo): Leto e seu filho Apolo governavam o poder profético da luz celestial e o santuário terreno de Delfos, enquanto Astéria e sua filha Hécate comandavam os poderes proféticos na noite, das estrelas (astrologia) e dos fantasmas dos que se foram (necromancia).

Febe

Febe podia também ser ligada aos ritos de purificação realizados em Delfos, cujos nomes traziam o termo phoibaô. De certo, seu nome, originalmente, surgiu como derivação do título de Apolo, Febo (o Brilhante, o Puro), e não o oposto.

Ela era muito semelhante a duas de suas irmãs Titânidas, Dione e Têmis, as quais também presidiram sobre templos proféticos. Dione era a deusa do oráculo de Dodona, enquanto Têmis era a deusa-profetisa da terra, associada tanto com Delfos como Dodona.

Crio

Tradução: O carneiro (krios), Controlador, Mestre (keiôn)

Crio era o deus Titã da liderança, dos animais domésticos e das constelações celestes. Assim sendo, sua constelação (a de Áries, chamada pelos gregos de Crio – “o Carneiro”) liderava as demais em seu percurso anual pelos céus (tarefa à qual foi condenado após ser derrotado na Guerra Titânica e encarcerado no Tártaro). Acreditava-se que essa foi a primeira constelação a surgir nos céus: suas ascensões marcavam tanto o início do ano como a chegada da primavera.

Crio era também considerado como o deus que primeiro estabeleceu os ciclos regulares do ano, tal como seu irmão Hipérion ordenava os dias e meses (através de seus filhos, o Sol, a Alvorada e a Lua).

Seus filhos Pallas e Perses aparentemente presidiam constelações vizinhas: Perses (o Destruidor) controlava Perseus ou a ardente Sírius, e Pallas controlava Auriga (o Condutor) e sua tempestuosa Capella. Seu terceiro filho, Astraios, era o deus das estrelas em geral e dos ventos sazonais.

Crio era imaginado como um deus com a forma de um Carneiro, ou ao menos com as características de um, como chifres enrolados (como os do deus líbio Amon). Seus filhos também deviam ter formas de animais: Pallas, cuja pele tornou-se a Égide de Atena (ou o escudo de pele de cabra), era claramente assemelhado com uma cabra, Perses, pai da canina Hécate, provavelmente tinha formas de cão, e Astraios, pai dos deuses equinos do vento, também se parecia com um cavalo. Como Crio e seus filhos representassem vários animais domesticáveis, o Titã possivelmente passou a ser considerado o deus dos animais domésticos.

Hipérion

Tradução: Está-acima, Observando-de-cima (hiper, ion)

Hipérion era o deus Titã da luz, o pai dos três deuses brilhantes dos céus: Eos, a luz do alvorecer e do Dia, Hélio, o Sol, e Selene, a lua. Hipérion também podia ser o deus da vigia e da observação, sendo sua esposa, Téia, a deusa da visão.

Os gregos acreditavam que os olhos emitiam uma espécie de raio, tal como os raios solares ou lunares, que permitia que se enxergasse aquilo que fosse atingido. Conseqüentemente, o Sol e a Lua, bem como seus pais, estão relacionados com o dom da visão.

Hipérion, como um Titã filho do Céu, era responsável pela ordem dos ciclos solares, lunares e do amanhecer – o deus primordial que estabeleceu a regularidade dos dias e meses. Seu irmão, Crio, por outro lado, tinha em seu poder a ordenação das constelações, as quais definiam o ano em ciclos sazonais.

Téia

Tradução: Deusa, Divina (Téia), Divina inspiração, Profecia (Téiazô), Visão (thea, theaomai)

Téia era deusa Titã da visão (thea) e da luz brilhante que vem do claro azul do céu (aithre). Era também, por extensão, a deusa que deu ao ouro, à prata e às pedras preciosas seu brilho e seu valor intrínseco.

Téia era casada com Hipérion, o deus Titã da luz, e com ele teve Hélio (o Sol), Eos (a Aurora) e Selene (a Lua). Após a Batalha dos Titãs, na qual as titânides permaneceram neutras, ela passou a morar no palácio de seu filho Hélio.

Tal como suas irmãs Têmis, Dione e Febe, Téia também era considerada como uma deusa da adivinhação. Seu nome está ligado à palavra Téiazô – “adivinhar” ou “profetizar”.

Jápeto

Grafia Latina: Iapetus, Japetos
Tradução: Ferido ou Perfurado (com uma lança – iaptô])

Jápeto era o deus Titã que assegurava às gerações de criaturas mortais sua quota limitada de vida. Tal como seu irmão Cronos, ele era um deus do tempo, filho de Urano. Como um dos Titãs mais destrutivos (representando a mortalidade), é retratado ao lado de Cronos (o tempo que tudo devora) na cova do Tártaro. Também pode ter representado a parte da cúpula celeste que fica abaixo do horizonte, ou seja, no fundo do Tártaro.

Jápeto e sua noiva Clímene trazem diversas funções. Primeiramente como deus da mortalidade, Jápeto é “o que lancina”, o deus da morte violenta na natureza. Sua esposa Clímene também surge como uma deusa das forças naturais. A forma masculina de seu nome, Clímeno (o Ilustre), era uma forma de eufemismo utilizada para se referir ao deus do submundo, Hades. Além disso, a relação Clímene “Fama” ou “Renome” traz a ideia do reconhecimento alcançado pelos mortos, em honra de seus feitos gloriosos em vida.

Um segundo aspecto de Jápeto e Clímene era como deuses associados à habilidade artesanal. O título de Jápeto, “o que lancina”, traz também a idéia da própria lança, a arma com que os homens mataram – tanto animais (na caça) como semelhantes (na guerra). Jápeto era também um artesão de armas. O nome de sua esposa, por sua vez, era também um epíteto para o grande artífice Hefestos (Címenos, o Famoso, na literatura homérica).

Os poderes da mortalidade e do artesanato aparecem também em seus filhos Prometeu e Epimeteu, os deuses que do barro criaram os seres mortais, e deram garras, dentes e outros atributos aos animais, deixando ao homem o fogo divino, necessário à fabricação de armas e para cozinhar a carne das caças.

Os filhos de Jápeto eram assim descritos: quanto ao nível intelectual, Prometeu é demasiado astuto, e Epimeteu é um tolo sem malícia, Atlas é muito ousado, e o arrogante Menoitios é propenso a explosões violentas. Tais características foram justamente a causa de suas respectivas decadências. Jápeto era considerado como o ancestral titã dos homens, uma raça que herdou as piores qualidades de seus filhos: astúcia arrogante, estupidez, ousadia excessiva e temperamento explosivo. Outra ligação de Jápeto com a humanidade está em seus netos Deucalião e Pirra, que repovoaram a Terra após o Grande Dilúvio.

Têmis

Tradução: Leis dos costumes, Tradição, Lei Divina (themis, thesmos), Decretos dos deuses, Oráculos (themistes)

Têmis era a deusa Titã da lei e da ordem divina – as regras de conduta anteriormente estabelecidas pelos deuses. Ela era também uma deusa profética que governava os mais antigos oráculos da Terra, inclusive o templo de Delfos. Neste papel, ela era a voz divina que primeiramente instruiu a humanidade no referente às leis primordiais de justiça e moralidade, tal como os preceitos de piedade, as regras de hospitalidade, boa governança, convivência em grupo e sacrifício para os deuses. Têmis era a principal conselheira de Zeus nos céus, onde ela se sentava ao lado de seu trono para guiá-lo nos preceitos da lei divina.

Em grego, themis é a lei divina, que foi estabelecia pelos próprios deuses na antiguidade. Na realidade, eram as leis fundamentais dos costumes e das tradições da Grécia. As nomoi, por sua vez, eram as leis estabelecidas pela legislação humana.

Têmis era praticamente indistinguível de Deméter Thesmophoria (a Mãe Terra, a que traz a lei divina). De fato, as seis crianças de Têmis, as Horas e as Moiras, refletem o caráter dual da filha de Deméter, Perséfone, que traz tanto a vida (com a primavera) como a morte (com o inverno). Têmis era também identificada com Gaia, a terra personificada.

Mnemósine

Tradução: Memória, Lembrança (mnêmosynê)
Nome Romano: Moneta (tradução: memória).

Mnemósine era a deusa Titã da memória e a criadora das palavras e da linguagem. Como filha de Urano, era a deusa do tempo que representava a preservação oral dos contos históricos antes da introdução da escrita.

Com Zeus, teve as Musas, nove deusas inspiradoras das artes e ciências. Ela própria era, às vezes, citada como uma das três Musas Antigas, as primeiras deusas da música. Na Teogonia de Hesíodo, reis e poetas recebem o dom da eloquência e da persuasão por graça de Mnemósine e por sua relação especial com as Musas.

Mnemósine era também o nome de um rio no Hades, contraparte para Lethe, segundo uma série de inscrições funerárias datadas do século 4 AC. As almas dos mortos bebiam do Lethe para que não se lembrassem de suas vidas passadas quando reencarnassem. Iniciantes eram levados a beber do rio Mnemósine (memória), ao invés do Lethe, quando morriam.

De modo semelhante, aqueles que desejassem consultar o oráculo de Trophonius na Beócia deviam beber alternadamente de duas fontes chamadas “Lethe” e “Mnemósine”.

Mnemosyne

7 comentários em “Os Titãs”

      1. Exato, era confuso até para os próprios gregos na época. Vou deixar uma sugestão de tema: Falar sobre o tempo. Como o tempo físico Cronos, Kairós: O tempo metafísico e Aión: Tempo Cíclico

        1. Quer ouvir sobre o Tempo?
          https://www.mitografias.com.br/2014/05/papo-lendario-101-tempo-uma-viagem/
          https://www.mitografias.com.br/2014/05/papo-lendario-102-de-volta-ao-tempo/

          PS: Aión é visto mais como um tempo muito grande, como a totalidade do tempo… é a base da palavra “Era”, para falar das idades geológicas como uma grande quantidade de tempo que engloba todas as possibilidades… 😉 Mas como existem culturas onde essas aións são cíclicos – termina um, começa outro – há essa possibilidade de compreensão… mas o tempo em geral é cíclico…

  1. Tem uma versão que diz que a humanos são filhos de Gaia (a Terra), nascidos da terra, quase parecido com lenda judaica, só parecem que nascidos como de parto direto da terra.

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