Papo Lendário #207 - Entrevista com Márcia Jamille - #OPodcastÉDelas2020

Papo Lendário #207 – Entrevista com Márcia Jamille – #OPodcastÉDelas2020

Nesse episódio do Papo Lendário, especial da campanha #OPodcastÉDelas2020, Leonardo Mitocôndria e Nilda Alcarinquë entrevistam a arqueóloga e divulgadora cientifica Márcia Jamille.

Ouça nossa convidada falar de como é lidar com informações falsas sobre arqueologia e o Antigo Egito.

Produções de entretenimento sobre múmias e Egito prejudicam o trabalho de um arqueólogo e divulgador?

Conheça a “voz” da múmia

– Esse episódio possui transcrição, veja mais abaixo.

— LINKS —

Canal da Convidada: Arqueologia pelo Mundo (mudou de nome recentemente)

Site: Arqueologia Egípcia

Compre o Livro: Uma Viagem pelo Nilo

Curso: Animais Sagrados do Egito

Site da campanha #OPodcastÉDElas

Vote no Prêmio LeBlanc. É só preencher com “Antologia Mitografias Volume 3 – Mitos de Trindade”

— EQUIPE —

Pauta, edição: Leonardo Mitôcondria
Locução da abertura: Ira Croft
Host: Leonardo Mitôcondria
Participante: Nilda Alcarinquë
Convidada: Márcia Jamille

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— Agradecimentos aos Apoiadores —

Antunes Thiago
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— Transcrição realizada por Amanda Barreiro (@manda_barreiro)

[00:00:00]

[Vinheta de abertura]: Você está ouvindo Papo Lendário, o podcast de mitologias do projeto Mitografias. Quer conhecer sobre mitos, lendas, folclore e muito mais? Acesse: mitografias.com.br.

[Trilha sonora]

[Bloco de recados] Leonardo: Olá, ouvinte. Antes de começar o episódio, alguns recados rápidos. Primeiro, saibam que esse episódio faz parte da campanha O Podcast É Delas de 2020, uma campanha feita para incentivar a participação feminina em podcasts. Para participar dela, a gente aproveitou e convidou e entrevistou a arqueóloga Márcia Jamille, que tem um canal no Youtube e um site. A gente vai deixar aí os links. Outro recado é para lembrar de você apoiar o Mitografias. Inicialmente, você pode contribuir com o valor que achar melhor, seja pelo Padrim: padrim.com.br/mitografias, ou pelo Catarse, que a gente começou recentemente: catarse.me/mitografias. Quem apoia, além de receber os episódios com antecedência, possui outras recompensas. E, por fim, se você está ouvindo esse episódio até o dia três de abril, saiba que estamos participando do prêmio LeBlanc com a nossa antologia Mitografias, volume três: Mitos de Trindade. Nós fomos os vencedores quando publicamos o volume um, e agora você pode votar novamente na gente na categoria Literatura Fantástica e Ficção Especulativa. No post deste episódio terá todos os links da campanha para você conhecer outros podcasts que estão participando, de como nos apoiar e dessa premiação. E agora vamos ao episódio.

[Trilha sonora]

Leonardo: Muito bem, ouvintes. No episódio de hoje, voltamos com uma convidada que muitos mesmo de vocês pediram, e hoje o foco do episódio é a própria convidada.

Márcia Jamille: Ah, quer dizer que muitos pediram?

Leonardo: Sim, pior que teve, por causa do episódio do Aquenáton, aí muita gente curtiu e estava pedindo.

Márcia Jamille: Gente, então está bom. Olha, eu estou me sentindo uma miss agora. Ah, eu estou feliz. Eu fiquei agora totalmente sem graça. Vocês deviam ter dito isso antes de a gente começar a gravar, porque o show aqui ia ser menor. Gente, coração, que isso?

Leonardo: Já viram que a Márcia voltou aí para participar de mais um episódio e, como disse, hoje vai ser o foco nela, para ela falar aí como é ser arqueóloga, como é ser divulgadora, porque anteriormente a gente falou aí de um faraó, mas o que seriam os faraós se não fossem os arqueólogos para a gente ter conhecimento deles?

Márcia Jamille: Nossa, que pressão.

Leonardo: Fica tranquila e aproveita e pode aí já se apresentar com os ouvintes, para quem não ouviu o outro episódio. Pode se apresentar.

Márcia Jamille: Que foi o quê? Há dois anos, inclusive. Enfim, gente, olá, tudo bom? Meu nome é Márcia Jamille. Como já foi bem dito, eu sou arqueóloga e sou divulgadora de ciência. Eu tenho um canal no Youtube chamado Arqueologia Egípcia e tenho um blog chamado Arqueologia Egípcia, no caso arqueologiaegipcia.com.br. Escrevi um livro em 2014 chamado Uma Viagem pelo Nilo, ele já esgotou, o livro físico, mas vocês podem encontrar o ebook na Amazon. Planejo ser, um dia, coordenadora de escavação no Egito – por favor, ajudem em doações. Nem tem campanha para isso, mas vai que tem no futuro, não é?

Leonardo: É, atualmente o pessoal sempre faz campanha para ajudar e tudo, já começa aí.

Márcia Jamille: É, ultimamente a gente anda precisando fazer campanha.

Leonardo: E até foi interessante que você falou aí que é divulgadora científica. Isso seria uma das coisas que eu ia puxar também, você se põe realmente como divulgadora, você tem o canal do Youtube, mas se pôr como divulgadora científica, porque fica aquela coisa: se não é física, ou química, ou matemática, a pessoa fala: “É ciência mesmo?”, sempre tem aquela…

Márcia Jamille: É, normalmente, quando eu falo: “Ah, eu sou divulgadora, eu trabalho com ciência”, o pessoal normalmente fala: “Ué, mas você não usa jaleco”, tipo, como assim? É porque tem esse lance popular de achar que ciência é aquela pessoa – o cientista -, o indivíduo cientista é aquele que fica no laboratório mexendo em tubinho de ensaio e não consegue enxergar que ciências humanas são ciências, e, a propósito, arqueologia faz parte das ciências humanas – só jogando no ar.

Leonardo: Por isso que é bom deixar isso claro, então, mostrar que você faz um trabalho de divulgação científica no Youtube porque realmente precisa disso. A gente tem outros divulgadores científicos, mas a grande maioria de coisas no Youtube, que encontra, como internet em geral, tem que tomar muito cuidado.

Márcia Jamille: Nossa, tem muita pseudagem. Eu mesma fui olhar ontem o meu canal, que eu fui pegar um vídeo meu – sim, gente, eu assisto aos meus próprios vídeos, enfim, porque às vezes tem alguma coisa que eu esqueci, “Ah, eu citei naquele vídeo”, eu vou dar uma olhadinha -, aí eu estava lá assistindo a alguns vídeos meus e, quando eu olho na aba do lado, meu deus… inclusive estava rolando uma live sobre um assunto pseudocientífico, o qual não vou citar aqui. Estava rolando uma live na hora e eu olhando assim… cara, eu acho que há uns três anos o Youtube fica falando para a gente: “Nós vamos tentar diminuir o alcance desses canais de pseudociência”, mas eu abro o meu canal e é justamente isso que eu vejo no recomendados, e muito raramente eu vejo algum colega do Science Vlogs, por exemplo. Então é complicado. E isso é complicado também no sentido de que, por exemplo, muitas pessoas acham que arqueólogos buscam relíquias ou então saqueiam tumbas, o que não é verdade. Essa é uma visão que foi extremamente perpetuada por conta de filmes como Indiana Jones e A Múmia – embora, A Múmia, eu ame muito esse filme, ele tem esse grande problema. E essa visão foi perpetuada por esses filmes e, quando a gente chega no Youtube, você vê esses canais perpetuando a mesma história. Está complicado, a nossa vida está bem complicada.

Nilda: Realmente está muito difícil, não só para divulgador científico. Às vezes eu vou ver outras coisas, sabe? Eu sei o que eu estou procurando, porque já faz muito tempo que eu tenho problema de saúde, eu sei as coisas que eu posso procurar, mas, sabe? Você olha, o que é isso? Aí de repente a coisa volta, coisa que eu ouvi há 15 anos, hoje está voltando. Que isso, gente?

Márcia Jamille: É como o lance do coronavírus agora. O que tem de gente ensinando chazinho não é brincadeira. Agora, lavar a mão ninguém quer.

Leonardo: E eu vejo, acabo passando por isso aí, principalmente porque eu vou pesquisar, vou atrás dos canais científicos e tudo, isso a gente estava usando o Youtube, mostrando assim, mas isso na internet em geral, até no Google. Você vai pesquisar, em geral você vai encontrar essas outras coisas de pseudociência. O problema é que aí eu fico naquele dilema assim: às vezes eu até quero ver um vídeo assim para entender o que a pessoa está falando ali para ver o que essas pessoas falam, como elas se portam ali, só que eu fico pensando: “Mas aí eu vou dar audiência para ela”, então, tipo, eu quero entender como ela fala, mas não quero dar audiência. E você, como você lida com isso? Porque você já tem a questão também de ter que passar um conhecimento, você tem que estar passando realmente, divulgando, e é uma área que tem muita coisa falsa também, informações meio duvidosas, que o pessoal fica aumentando aí.

Márcia Jamille: É bem complicado. Eu estou trabalhando com isso há dez anos, cerca de dez anos, e parece que não muda, simplesmente não muda. Parece que cada vez mais vai crescendo, com a grande diferença de que sempre tem algum assunto que está em voga naquele momento, ele some e volta, porque o pessoal vai ressuscitando essas pseudagens. É muito complicado, porque até mesmo o próprio público não só quer acreditar naquilo, às vezes ele nem acredita, mas ele quer consumir muito mais aquilo, porque para ele é muito mais interessante chegar alguém e falar, dar uma resposta esdrúxula sobre algo do que esperar três anos de uma pesquisa científica. Aí eu sei que tem essa questão de que as pessoas na Era da Internet querem saber as respostas agora, e não esperar três ou cinco anos, então é complicado. E é complicado também no sentido de que a gente tenta fazer essa divulgação do que está rolando de trabalhos e – agora eu vou entregar a galera – aí eu vou atrás, sei lá, de um pesquisador X para que ele apresente o trabalho dele, e ele simplesmente não responde, porque ele não quer se misturar com esse povo da internet.

Leonardo: Eu imagino. Você falando desse jeito, deu uma dor no coração, porque o que a gente já foi atrás de acadêmicos para participar, você vê que a pessoa fica reclusa ali, não quer, não responde, acha algo estranho, e, putz, eu dou um puta valor para o pessoal em geral, seja podcaster, seja youtuber, seja onde for, seja na internet, que esteja realmente divulgando ciência, porque além de precisar, porque tem muita coisa, como a gente tem falado, tem muita pseudociência, mas muita gente da área não faz questão, não conhece ou sei lá.

Márcia Jamille: E às vezes prefere falar com um grande portal, que pode acabar desvirtuando o trabalho, do que falar com alguém que é colega, um par, que vai mostrar tudo certinho e tal. Agora, por que não sei, eu prefiro não tirar conclusões aqui. Você ainda ri, não é?

Leonardo: É que você falou de tirar conclusões, (inint) [00:10:07]. O pessoal acadêmico que divulga mesmo, que eu tenho mais próximo, já me passou algumas conclusões, então… é melhor não falar mesmo.

Márcia Jamille: Então eu prefiro deixar que eles respondam, porque eu sou peixe pequeno. Vou ficar na minha.

Nilda: Tem uma coisa que não muda, a pessoa pode ser cientista, o que for, às vezes acaba prevalecendo aquela coisa do que eu acredito ou do que eu acho melhor, independentemente de às vezes haver pesquisas em outras áreas que mostram, por exemplo, no nosso caso de divulgação, que você fazer a divulgação específica, dirigida, dependendo do caso, é mais eficiente, mas aí a pessoa: “Não…”, sabe? A pessoa não consegue entender isso às vezes, ela prefere ainda acreditar naquela verdade anterior, de que sair em um jornal, mesmo que deturpado… é complicado isso. E aí a pessoa não consegue perceber que ela está fazendo a mesma coisa que outras pessoas que acreditam em pseudociências, que é: eu acredito naquilo que eu quero.

Márcia Jamille: E já rolou comigo o lance… não só comigo, outros divulgadores, vocês provavelmente já ouviram muito essa história de que, por exemplo, a gente lança um vídeo, faz a pesquisa, o roteiro, edita tudo certinho e tal, lança e aparece algum colega nosso e fala: “Ah, mas você faltou falar do artigo do fulano de tal, faltou falar da teoria de fulano de tal”, sendo que, sim, eu sei que existem essas coisas, mas eu estou fazendo um vídeo para um engenheiro do Acre, para um pedreiro de São Paulo, para, sei lá, a dona de casa do Rio de Janeiro, eu estou fazendo para um público amplo, e não estou fazendo para um congresso científico. É uma coisa que o pessoal também não entende, mas, felizmente, é algo que está mudando, devagarzinho, mas está mudando. Inclusive, ano passado o pessoal do LARP, do Laboratório de Arqueologia Romana e Provincial da USP, quando ficou sabendo que eu estava indo para São Paulo, me convidou. Os próprios chegaram lá e me convidaram para ir lá conhecer o trabalho deles e foi muito legal, eu vi o que eles estavam produzindo e tal. Então tem questões e questões, tem pessoas e pessoas, acadêmicos e acadêmicos. Tem aquele que prefere ficar enfurnado em um laboratório e não falar com ninguém, mas tem aqueles que estão ansiosos, porque, tipo, não é todo mundo que realmente tem aquele lance de fazer divulgação científica, porque divulgação científica a gente tem que saber como falar com as pessoas. Aí eles preferem às vezes chamar quem já está habituado com isso e somar os trabalhos, então é algo que realmente está mudando. Eu não posso simplesmente também chegar aqui e falar: “Ninguém quer falar com a gente”, muito pelo contrário, estão surgindo cada vez mais cientistas dispostos a falar. O problema é que ainda precisam de mais mudanças.

Leonardo: Dar os primeiros passos.

Márcia Jamille: É.

Leonardo: Isso me lembrou essa ideia de que… eu também ouvi – a gente falou aí dos egos – alguns acadêmicos falando assim: “Eu não sei como falar com a pessoa, porque o que eu conheço é algo complexo, eu sei”, e a pessoa fala muitas vezes na humildade mesmo, fala assim: “Olha, eu conheço de uma forma complexa e eu sei que, se eu passar da forma como eu estudei, muita gente não vai se interessar e não vai entender”, não vai se interessar muitas vezes porque não vai entender. Então também realmente tem que saber passar para a pessoa.

Márcia Jamille: É por isso que eu falei daquele lance, que, tipo, não é todo mundo que tem esse lance de chegar na frente de uma câmera, chegar no microfone para falar com podcasters. Então eu acho que essas pessoas… não custa nada vir falar com a gente, como já rolou comigo, de a pessoa vir e falar. Aconteceu também de um pesquisador… ele fez uma descoberta e ele começou a passar os links da descoberta dele para que eu pudesse ler, para ver se eu achava interessante falar e tal. Foi o lance da descoberta da cabeça da múmia lá no Rio Grande do Sul. Ele que veio também e foi me mandando os links, e, toda vez que tinha uma descoberta nova, ele mandava. Então isso já é um grande passo. Isso me empolga, para falar a verdade. Tem esse lance da pseudagem crescendo cada vez mais, mas, por outro lado, tem esses acadêmicos que sabem que eles não têm esse poder de alcance do público, ou então, no caso, como você falou, não sabem como falar com o público e vêm falar com a gente. Então, galera, venha falar com a gente, por favor, mande e-mail e tal.

Leonardo: E o que eu acho interessante é que a sua área principalmente, que você é voltada para o Egito Antigo, é algo que, se souber falar, você chama muito a atenção, é algo que tem pessoa curiosas para entender. O problema é que é uma área que também tem muita pseudagem.

Márcia Jamille: Pois é. Eu tive a grande sorte de justamente ir para a arqueologia, que já tem muita gente criando um monte de teoria maluca sobre, e ainda, de quebra, ir para Egito Antigo. Meu deus, eu não tenho juízo.

[Trilha sonora]

Leonardo: E aí, como eu falei, quero saber como você lida com essa pseudagens, porque, eu que estou meio de fora, sou mais um curioso da parte de Egito Antigo, coisas que eu vejo mais comumente, principalmente porque aqui no Papo Lendário a gente lida muito com coisas de religião e mitologia, quando chega no fim de ano, sempre tem a questão do Hórus.

Márcia Jamille: Ah, já sei. Ah, meu deus. É como eu disse para você, a pseudagem sempre é a mesma, só que o pessoal vai ressuscitando por conta da moda. E outra coisa que é importante falar, que o pessoal vai atrás dessas coisas às vezes só por puro entretenimento ou às vezes porque realmente acredita. Mal sabem eles que esse pessoal que aparece dizendo: “Tenho essa grande verdade, preciso contar para vocês” está lucrando e muito com essas histórias. Está lucrando muito mesmo. Aí esse lance do Hórus mesmo, meu deus. Quando chega dezembro, eu já estou preparada para receber as mensagens. Eu tenho um post já no Arqueologia Egípcia, no site, falando sobre o assunto, porque chega uma hora que enche o saco ter que responder o tempo todo. Aí às vezes a pessoa manda mensagem e eu só mando o link. E esse lance do Hórus não faz o menor sentido. Não faz o menor sentido. Primeiro que a datação, a cronologia no Egito é diferente do nosso calendário. Aí a pessoa fala: “Ele nasceu no dia 25 de dezembro”, como é que vai saber? Os egípcios contavam o tempo diferentemente da gente. Aí falar que nasceu de uma virgem… a deusa Ísis, virgem? Amigo, está difícil aí o seu conhecimento de mitologia egípcia, hein?

Leonardo: Quando eu vejo esse de 25 de dezembro, o que dá muita raiva é que eu vejo muita gente atacando religião por causa… falando: “Olha, é uma cópia dessas outras”, e aí colocam uma lista. O Hórus é sempre o mais conhecido, principalmente por causa daquele documentário – não sei se eu posso falar documentário, mas, enfim…

Márcia Jamille: Mas eu já comentei sobre este documentário, este programa aí, eu acho que no canal… olha que absurdo, foi no canal Mimimídias. Eu já falei sobre o livro que inspirou este programa em questão. Eu dissequei o livro todo e peguei alguns pontos para discutir nesse vídeo. Ah, me xingaram tanto naquela época.

Nilda: Você acaba com a crença das pessoas.

Márcia Jamille: Ah, mas, por outro lado, tem gente que às vezes… ela só precisava daquele lance de mostrar tintim por tintim, cada passozinho, porque é aquele lance, não é que a pessoa acredita fielmente. Às vezes ela viu, acreditou, mas, quando aparece alguém e mostra que aquilo não faz o menor sentido, ela fala: “Ah, é mesmo, obrigada”, mas tem outros que são meio doidos mesmo e já mandam xingando a minha mãezinha, pobrezinha, que não tem nada a ver com isso.

Leonardo: E é que nem eu falei, o Hórus é bem conhecido nessa comparação, no caso, desse programa, mas vem uma lista quando eu vejo, chega até Hércules.

Márcia Jamille: Mitra, o Hércules e o Dionísio, pois é, todo mundo copiou. Assim, o cristianismo, de fato, pegou inspirações em outras religiões, mas eu digo com todas as palavras que Hórus não tem nada a ver com isso aí.

Leonardo: E aí do Hórus acaba acho que detalhando bastante por causa disso aí, e eles colocam as coisas, tipo, tem os seguidores, 12 seguidores, foi traído, eles colocam tudo.

Márcia Jamille: De onde é que tiraram seguidores? Meu deus. Enfim…

Leonardo: Então, essa é uma dessas informações que passa, mas sempre volta. Essa tem a época para voltar. Outra também que eu vejo voltada para o Antigo Egito é a questão de alienígena, que o pessoal põe. Tem um canal próprio para isso, um canal de TV próprio para isso.

Márcia Jamille: Teve uma vez que eu fui parar para assistir a um dos capítulos de um dos programas desse canal em questão e, nossa… eu gosto de assistir a programas sobre alienígenas. Aliás, gostava, mas desgostei muito depois de assistir a isso. Eu gostava de assistir, porque, tipo, whatever, sabe? Estava lá, estava passando e tal. Eu adorava assistir, por exemplo, a programas de pessoas que iam atrás do Pé Grande. Eu amava, porque para mim era como se fosse um mockumentary, tipo um filme daqueles que o pessoal está gravando e fingindo que é um documentário. Mas a coisa começou a ficar tão… sei lá, engessada, tão “Vamos fazer isso e vamos tentar lucrar mais e mais”, que começou a ficar, tipo, uns negócios malfeitos, chatos, bobos. Digo: “Ah, cara, eu não quero mais assistir a isso, não”. Eu fui assistir a um capítulo desse programa para ver se eu ia reviver esse momento da minha infância, de assistir esse mockumentaries, nossa, olhei assim: “Cara, eles realmente estão acreditando nisso ou são pirados mesmo?”.

Leonardo: E aí o problema é quando você vê o tanto de gente que afirma ainda assim. Eu: “Caramba”, sabe? Esse de alienígenas é um que acho que não tem época para voltar, acho que está sempre aí.

Márcia Jamille: Sempre está aí, até por conta do esforço mesmo da emissora e de canais do Youtube de sempre estar falando sobre esse assunto, porque sabem que vai ter gente que vai clicar, seja porque acredita ou seja por curiosidade.

Nilda: E o Däniken fez um marketing muito bom da teoria dele, então ficou para sempre.

Leonardo: Essa questão de aliens também eu nunca levei a sério ali, então via também dessa forma, só como entretenimento mesmo, mas aí, quando eu fui crescendo e fui percebendo que isso aí na verdade tem um quê xenofóbico, de…

Márcia Jamille: Racista.

Leonardo: … racismo, tipo, nós, europeus, conseguimos construir, os outros não. Aí caiu a ficha, eu: “É, não, aí nem como entretenimento mais eu quero isso”.

Márcia Jamille: Então, foi o meu caso também, porque eu assistia naquela inocência de infância e tal, aí assistindo agora como adulta você vê xenofobia escancarada, racismo escancarado, tipo, caraca, então é assim, não é? Por exemplo, os egípcios não poderiam ter construído as pirâmides, mas os romanos poderiam construir aqueduto.

Nilda: Essa história de aliens na Antiguidade, eu, quando li, achei encantadora a coisa, porque eu não vi o documentário, eu li o livro do Däniken. Eu achei aquilo maravilhoso, mas, gente, eu tinha 11 anos e era a primeira vez na vida que eu estava lendo que tinha as Linhas de Nazca. Eu nunca tinha lido sobre Linhas de Nazca. E, quando eu tinha 11 anos, isso foi em 1979, internet era uma coisa que acho que só militar dos Estados Unidos sabia que existia, sabe? Era outra coisa, então aquele livro caiu na minha mão, aí, nossa, uau, tem esses moais na Ilha de Páscoa, sabe? Eu achei aquilo maravilhoso com 11 anos. Eu cresci um pouco, comecei a ler as coisas… eu acho que não, não é? Eu fiquei adulta, eu li… eu acho que com 11 anos você acreditar que aquilo ali… sei lá, é uma história em quadrinhos boa, talvez.

Márcia Jamille: É, então, às vezes não é nem você acreditar, é você estar lendo como se estivesse lendo uma história em quadrinhos mesmo. Aí, quando você vai crescendo é que você vai olhando e pensando: “Cara, essa galera realmente está acreditando nisso?”. Eu li o livro dele ano passado para esse vídeo do Mimimídias, e eu olhava assim: “Puta absurdo”, e não é nem absurdo do tipo: “Nossa, esse cara é maluco”, é que ele se contradiz em vários momentos, ele fala uma coisa, depois fala outra. É uma coisa tão óbvia que realmente eu fico indignada que adultos, mesmo sem conhecimento de arqueologia, leiam aquilo e, tipo, se maravilhem, porque é um negócio que você olha assim: “Gente, esse cara está muito louco”.

Leonardo: Mas aí eu fico pensando: você que é já da área, já passou da parte acadêmica, tem gente que entra para essa área motivado por isso aí, achando que, sei lá, vai encontrar aliens?

Márcia Jamille: Sim, já entrou gente assim. É meio constrangedor, porque a pessoa entra, e não quer dizer que são pessoas más, que são pessoas que, meu deus, são piradonas, esse tipo de coisa. Vão realmente na grande inocência. E você fica com aquele lance de “Meu deus, o que eu vou falar para essa pessoa?”. E já rolou em sala de aula, isso na época que eu estudava, de um rapaz se sentir insultado quando a gente foi mostrar o lance da pesquisa e tal, e ele ficou com raiva, porque… cadê os aliens? Ele entrou procurando aliens e, quando chegou lá, viu que eram só humanos que estavam fazendo aquilo, e ele ficou indignadíssimo. Eu acho que o lance todo é que a gente descobriu totalmente sem querer, porque a gente estava falando sobre um assunto e, do nada, ele soltou esse lance. Eu acho que era segundo semestre. Ele já tinha passado um tempinho na universidade. E foi quando ele começou a falar sobre essas coisas e a gente achando que era brincadeira, até que se ligou que era verdade e tal, então rolou um climão. Ele não seguiu.

Leonardo: Imagino.

Márcia Jamille: Nem falo de Egito Antigo em si, gente que entra para arqueologia brasileira.

Nilda: Existe arqueologia brasileira, Márcia?

Márcia Jamille: Oh, meu deus, existe e é linda, maravilhosa. Eu quase desisti de Egito Antigo por conta de grafismos rupestres, que, na época da graduação, eu fui para um sítio arqueológico de pinturas rupestres e, quando eu cheguei perto de uma dessas pinturas… cara, é difícil falar. A sensação é que é um lance que você está vendo algo que foi pintado há muitos anos e, sei lá, é muito louco você pensar: “Onde foi que as pessoas conseguiram os materiais, misturaram para fazer aquelas tintas que duraram tanto tempo, até aparecerem incêndios florestais?” e tal. Sei lá, eu quase fui para a área de registros rupestres, só que aí o lado do Egito bateu e disse: “Querida”… sabe aquele meme do carinha olhando para a moça? Rolou algo assim. Então, a arqueologia brasileira é muito incrível. É incrível. Tem o lance dos sambaquis, que alguns arqueólogos… eu estou entre esses arqueólogos que acreditam que, na verdade, são monumentos, só que em vez de serem monumentos em pedras, são monumentos feitos com conchas; tem as casas subterrâneas… nossa, tem muita coisa. A arqueologia na Amazônia mesmo, eu tenho muita vontade de ir um dia escavar na Amazônia. Eu acho que todo mundo que eu encontro que trabalha com arqueologia amazônica eu já chego: “Oi, eu posso enviar meu currículo?”. A terra preta de índio, nossa, eu não sei nem por onde começar, é incrível, mas eu acho que (inint) [00:25:10]…

Leonardo: Está emocionada.

Márcia Jamille: É, é porque é muito legal. Lá no canal, eu ainda espero trazer mais arqueologia brasileira, mas é difícil sentar, pesquisar, escrever para pesquisador, receber resposta e fazer isso em tempo hábil do Youtube, mas eu quero muito trazer cada vez mais arqueologia brasileira. Já tem alguns vídeos lá, como o que eu fui visitar o castelo Garcia d’Ávila, na Bahia; o vídeo em que eu visitei uma casa bandeirista, em São Paulo. Só que são exemplos de arqueologia histórica, arqueologia após a entrada dos europeus, tal, e blá-blá-blá. Mas eu quero trazer muito assuntos a ver com a nossa pré-história, porque é cada coisa incrível. Mas eu quero ir lá filmar, mostrar para o público para mostrar essa minha emoção da época da graduação; mostrar para o pessoal que arqueologia não é só Egito Antigo. Aqui no nosso país a gente teve muita coisa legal.

Leonardo: Foi legal você ter falado disso aí, porque eu conheço bem pouco e acho que também por isso que eu acho tão legal, que eu fico curioso. Também falando aí para o ouvinte, a gente também vai tentar trazer gente que estuda mais da arqueologia daqui também para trazer mais conhecimento aí em futuros episódios. A gente só precisa encontrar quem, mas acho que vale a pena. E realmente isso aí, que nem, a gente que faz episódios voltados para mitologia, muita gente também pede de religiões, culturas e mitologias daqui, e, tipo, é legal também, só que dá um puta trabalho ir atrás, mas vale a pena. E foi legal você ter falado isso aí, porque, quando a gente ouve de arqueologia, já pensa muitas vezes no Egito Antigo, é o mais padrão. Mas foi legal você ter posto que você também está interessada com o que é daqui.

Márcia Jamille: Eu vou trazer umas coisinhas por aí. Eu não posso falar, mas tem coisa chegando por aí, enfim, fiquem de olho no meu canal.

[Trilha sonora]

Leonardo: Uma coisa que é muito comum também é a parte mais mística e das maldições. Eu acho que isso vem antes até da internet aí. A internet propagou muita coisa que a gente está pensando agora, mas isso…

Márcia Jamille: É, na verdade, bem antes os árabes já tinham certas crendices em relação ao Egito, só que, com a chegada dos europeus lá no século 18, indo para o 19, as coisas começaram a piorar muito por conta da egiptomania e o orientalismo, chegar lá e ver aquelas coisas que eles não entendiam e interpretar da forma que bem quisessem, e, normalmente, enchendo de coisas místicas e tal. É tanto que muitas coisas que eles perpetuaram naquela época, até hoje o pessoal acredita, como Cleópatra tomando banho em uma banheira de leite. Minto, eu acho que isso não veio lá do século 19, eu acho que foi com o início do cinema, do lance da beleza da Cleópatra. Isso sim é mais antigo, mas o lance do leite eu acho que foi com o início do cinema.

Leonardo: É, isso da parte já do misticismo, das maldições que tem, eu acho interessante analisar, estudar, para ver como que antigamente se via algo mais antigo ainda. Mas eu acho meio estranho durar até hoje aí, tudo. E aí até eu lembro quando… essa palavra que você falou, de egiptomania, eu acho que é a primeira vez que eu escutei foi em um vídeo do seu canal e, quando eu escutei, eu falei: “Pô, puta, faz sentido”, porque isso não é egiptologia, não é um estudo; isso é a febre que as pessoas têm de gostar aí do Egito sem conhecer, que é ok, não estou nem criticando, mas é legal diferenciar. Só que tem que tomar acho que cuidado com isso aí, de, tipo, até hoje ficar carregando essas falsas informações.

Márcia Jamille: É, algumas coisas são pura crendice mesmo. Aí voltando para o lance da arqueologia brasileira e pegando a egípcia como exemplo, o pessoal assimila muito as tumbas a maldições e tal, sendo que no Egito maldições eram muito mais raras do que o pessoal acredita. Aí tem esse lance da morte. Arqueólogo é um acadêmico que sobrevive falando de pessoas mortas, e tem muita gente que acha que nós somos amaldiçoados. Aí tem esse lance da tumba no Egito e tal, maldições e blá-blá-bá. Teve um trabalho aqui no Brasil em que eu tive que limpar alguns ossos humanos, então eu estava lá no local em que eu estava trabalhando, chegou um pessoal da cidade – é uma cidade do interior daqui de Sergipe – para conhecer o nosso trabalho. Aí eu mostrei lá os ossos que tinham sido encontrados na região e tal, e, quando eu fui sair para lavar as minhas mãozinhas – gente, lavem as mãos -, um cara chegou, se aproximou e falou: “Você é louca? Quer ficar amaldiçoada tocando em osso humano?”. Então, tipo, o Egito é porque é uma civilização, é muito mais popular, mas só que essas crendices a ver com maldições e corpos humanos estão presentes em várias sociedades, mesmo nos dias de hoje.

Leonardo: Você não está lavando a mão para se livrar da maldição, então…

Márcia Jamille: Eu acho que as pessoas do passado agradeceriam muito mais a nossa ajuda por ter as tirado de algumas situações meio complicadas. No caso desse trabalho, o arqueólogo anterior tinha colocado os ossos em sacos de lixo e tal, então a gente aparecia para lixar e dar decência a esses ossos. Arqueologia é como qualquer outra profissão, existem profissionais e profissionais. É onde entra outro lance: o pessoal reclama muito de arqueólogos que escavam sepulturas e ficam falando: “Ah, mas você está perturbando a paz do morto”. Às vezes, meu caro, a gente está tirando aquela sepultura daquele lugar porque a gente sabe que vai acontecer alguma coisa que pode destruir toda aquela história. Se a gente ficasse com esse papo de não toque, a gente não teria descoberto a Luzia, por exemplo. Eu acho sinceramente que o que está faltando muito mais é o diálogo, porque tem arqueólogo que simplesmente chega lá, escava e vai embora, e não dá nenhuma satisfação para as pessoas que moram naquela região, sendo que, na minha opinião, acho que o certo é você chegar lá, se reunir com as pessoas, chamar e às vezes, tipo, contratar gente da região mesmo para mostrar o que está fazendo e tal. Existe um exemplo de um trabalho mesmo que a equipe de arqueologia chamou os representantes religiosos do local para que eles soubessem o que estava acontecendo e eles darem a bênção religioso. Por mais que eles não acreditem nas crenças, estão ali respeitando, porque não deixam de ser os antepassados. E eu só quero salientar que arqueólogo não é inimigo; inimigo é quem está tentando tirar as terras, por exemplo, de indígenas, realizando genocídio indígena. Esses sim são os inimigos e esses por acaso também não gostam da presença de arqueólogos em determinadas regiões, porque são arqueólogos que vão dizer: “Epa, encontrei esse sítio aqui de 300 anos e esse sítio aqui aponta que essas pessoas que estão ali são os descendentes desses aqui, então elas têm muito mais direito a essas terras aqui do que você”. É por isso que a galera não gosta de arqueólogo. Então, gente, arqueólogo não é inimigo, não acredite nessa história. E, arqueólogos, conversem com as pessoas pelo amor de deus, conversem.

Nilda: Só uma coisa que você tinha falado, que você mexeu com os ossos e a pessoa perguntou será que não tinha medo de ser amaldiçoado – isso é incrível, porque você falou que não é só o Egito Antigo, mas você tem inúmeras comunidades em que quem mexe com os mortos, quem prepara os mortos é separado, é uma casta separada, é um grupo separado, ou então, depois daquele ritual, tem que ficar não sei quantos dias trancado, sabe? Tem que fazer uma purificação específica e tal. É uma coisa que até hoje tem alguns tabus. E o Egito Antigo é muito ligado à morte – no nosso imaginário, é ligado à morte. Porque, vendo o seu canal e vendo as coisas, o Egito Antigo não é apenas morte, é que os monumentos que sobraram foram os túmulos, mas o povo lá vivia, andava, comprava, fazia tudo. Acho que a morte era um dos aspectos, assim como para a gente também é.

Márcia Jamille: Enquanto temos algumas sociedades que simplesmente se afastam da morte, como é a nossa sociedade ocidental e tal, que a morte é extremamente afastada da gente – a partir do momento que, sei lá, alguém morre no hospital, a pessoal é enrolada ali e some rapidamente, a família raramente tem aquele contato com o corpo, ou seja, nós somos de uma sociedade que nega a morte o tempo todo, é tanto que existem propagandas para a gente viver mais ou então ser jovem para sempre -, em paralelo, existem outras sociedades em que morte é algo que você vai passar. Não adianta, todo mundo aqui vai morrer – aquele spoiler: todo mundo morre no final. Tem aquela aproximação maior. No Japão, por exemplo, existe, em alguns lugares, a tradição de você mesmo cuidar do corpo do seu parente, você limpar, dar banho e tal, o que é impensável aqui no Ocidente, ou seja, Brasil, América no geral. No geral não, porque na América Central e parte da América do Norte, existem lugares em que o convívio com a morte é muito mais brando e é muito mais amigável. E, sobre o Egito, o lance de o que chega até nós, de fato, quando a gente vê o território egípcio, nós temos as margens do Rio Nilo, que é aquela parte mais fértil, e temos o deserto. E, gente, a propósito, parem de chamar o Egito Antigo de Kemet, por favor, parem. Kemet é só a parte fértil, o Egito é composto pelo Desheret, que é o deserto, e o Kemet. Ele é a união, inclusive, do alto e baixo Egito. Então parem de dizer que o Egito Antigo se chamava Kemet, porque vocês estão excluindo uma grande parte do território egípcio, inclusive os oásis. Tinha gente que vivia nos oásis. Enfim, aí muitas casas no Egito eram construídas na parte fértil, enquanto as tumbas e alguns templos eram construídos na parte desértica. E, quando a gente vai ver, a parte desértica é o lugar mais propício para se preservar coisas, enquanto a parte fértil não. É por isso que a gente tem essa falsa impressão de que eles eram obcecados pela morte, porque muitos artefatos são provenientes dessas áreas secas, enquanto aquelas das áreas úmidas são muito mais raras. Mas a arqueologia subaquática está aí para tentar mudar isso, enfim.

Leonardo: Interessante, e essa parte aí também do nome do Egito eu não… é por isso que eu gosto de chamar de Egito Antigo, eu acho que eu erro menos.

Márcia Jamille: É, Kemet não faz sentido, eu não sei nem por que começou. Ah, já sei quem foi, mas eu prefiro não citar. Mas eu ainda vou fazer um material explicando direitinho essa questão. Eu entendo as pessoas que acham que é Kemet, porque Kemet é a parte em que o pessoal mais vivia, sendo que essa não é a realidade. O Egito é uma daquelas sociedades que vivia naquele lance da dicotomia, sabe? É tanto que tem o lance do deserto ser a parte de Seth e a parte fértil ser o lance de Osíris, e tal, enfim.

Nilda: São três mil anos em que pode ter tido épocas em que não era isso também.

Márcia Jamille: Óbvio. O pessoal acha que… tipo, eu falo lá muito no canal: “Nessa época tal” e às vezes eu falo de uma forma muito geral, mas eu falo de forma geral para o pessoal entender. Mas, a partir do momento que você entra para estudar mesmo, você tem que saber dessas pequenas mudanças temporais, porque são três mil anos, cerca de três mil anos só da época dos faraós. A gente ainda tem o período pré-dinástico, o qual ainda estão sendo feitas pesquisas para entender o que rolava, sem contar o que ocorreu com o Egito logo depois da era dos faraós. Então é um intervalo temporal enorme, então não tem como você chegar e falar: “É isso assim, foi em todas as épocas”, porque não foi.

Leonardo: Que nem a Nilda falou, que essa imagem que a gente tem do Egito, da relação com os mortos e tudo, e a imagem que a gente tem acaba muitas vezes sendo pelas produções. A gente falou aí de algumas produções, mas a gente tem muita questão de filmes e coisas assim que trazem as maldições – acho que praticamente todos esses filmes de entretenimento mesmo de Egito Antigo têm a questão das maldições. Aí eu queria saber de você se isso aí prejudica, se isso atrapalha, como você lida com isso aí também.

Márcia Jamille: Então, acho que é meio a meio. Tem muita gente que chega a essas produções e aceita aquilo como verdade absoluta, por mais que produtores e acadêmicos falem: “Mas isso aí é só ficção e tal”, tem gente que realmente acaba acreditando fielmente naquilo. Tem o filme O Retorno da Múmia, de 2001, que apresenta o deus Anúbis todo musculoso, com uma arma e tal, sendo que ele não era daquela forma. Mas tem muita gente hoje que ainda reproduz essa imagem acreditando que era daquela maneira que o deus Anúbis era representado pelos egípcios antigos. É tanto que eu acho que é nesse filme também que é dito que ele é o deus da morte, e muita gente acredita que é o deus da morte, sendo que ele não é, ele é a divindade do embalsamamento. Não é o deus da morte, nem o deus dos mortos, nem governante dos mortos ou algo assim. Então existe esse meio a meio: por um lado, tem pessoas que assistem, acabam acreditando naquelas coisas e tal como se fossem verdade e tal, e não procuram saber mais acerca – e também elas não são obrigadas, óbvio; e tem aquelas outras que assistem e às vezes bate aquela curiosidade em saber mais e acabam chegando a uma National Geographic da vida ou no meu canal, meu site, coisas assim. Então é aquele lance: por um lado, ajuda a perpetuar o Egito e acaba trazendo essas pessoas ou para o meio acadêmico, porque às vezes… Indiana Jones, por exemplo. Muitos arqueólogos só viraram arqueólogos porque viram Indiana Jones; quando chegaram na Academia, viram que não era bem dessa forma, era bem diferente, muito diferente para falar a verdade. E, por outro lado, tem as pessoas que acabam assimilando aquilo e acreditando que Anúbis é daquela forma, que o arqueólogo está ali para pegar relíquias e sair correndo dando tiro. Então é aquele lance. Enfim, mas tem filmes que eu adoro assistir.

Leonardo: É, isso também que eu ia perguntar: mas você também assistindo ao filme em si fica de boa? Porque eu fico pensando também – isso em qualquer área -, a pessoa começa a entender muito de tal área, vai assistir a alguma produção e fala: “Ah, não é bem assim”, aí, sei lá, de repente se incomoda. Eu já vi algumas pessoas assim. Eu não sei se, na arqueologia, você vê dessa forma.

Márcia Jamille: Tem colegas que se aborrecem muito; em compensação, tem outros que, sei lá, são professores universitários, professoras, e pegam essas produções e passam em sala de aula e discutem com os alunos: “Olha, isso não é bem assim, isso é dessa forma, isso não é legal”, ou então simplesmente pegam, sei lá, um filme… deixa eu ver um exemplo. Ah, sei lá, um filme que é cheio de orientalismo, como muitos filmes anteriores à década de 80, que orientalismo até ninguém aguentar mais. Aí pegam esses filmes, colocam lá e falam: “Qual é o problema desse filme?” e discutem orientalismo. Então, tipo, tem aqueles que têm ódio mortal, não aguentam ouvir falar, por exemplo, de Indiana Jones, mas eu, por exemplo, quando vou assistir, se o roteiro for bom, se for um filme legalzinho, que eu sento e pá, eu não vejo problema nenhum. Às vezes até pego o filme para discutir. Se o pessoal for visitar o meu canal, tem uma série que é Cine Arqueológico, e normalmente eu cito filmes que ou eu achei que tinham algo interessante para ser comentado ou que eu gostei, que queria falar com o público e dizer: “Olha, essa parte é assim, não é assado” e tal. Mas tem uns filmes que são difíceis.

Leonardo: Mas aí o problema é do filme em si, não do que ele trata, não é?

Márcia Jamille: É, o problema é do filme. Como o filme Deuses do Egito – eu não lembro de que ano ele é -, que é com aquele ator que fez o Lannister lá de Game of Thrones. Por que diabos colocaram um cara caucasiano para fazer o Hórus? Por que todos os… meu deus, assim, olha, é tanta coisa… gente, que close errado, na boa. E o filme em si eu não gostei, é difícil. Eu assisti na pré-estreia e eu, na metade do filme, pensava: “Eu vou assistir a esse filme de novo”, no entanto eu pensava: “Eu vou gastar os minutos dos meus seguidores falando desse filme?”, porque foi difícil. Eu demorei muito tempo para assistir depois, eu assisti com a minha irmã e mesmo assim tinha algumas coisas que eu olhava assim: “Cara, não gostei desse filme”, e eu falo em si de roteiro, caracterização. Estava difícil. Aí tem o A Múmia, de 2017, que eu hypei muito, divulgava muito – não recebi um centavo, por acaso, por conta disso -, e estava muito empolgada, porque iam trazer de volta uma múmia mulher e tal, um monstro mulher. Tem tantas coisas interessantes nesse filme, como o lance de ela ter aquelas tatuagens, que, no período pré-dinástico, tem umas estátuas com tatuagenzinhas. Tinha realmente uns detalhes bem interessantes que, se eles tivessem usado a fórmula da franquia mesmo, tivessem seguido a franquia certinho e tal, ia ser um filme incrível, mas tem tanta coisa errada naquele filme, eu digo de roteiro.

Leonardo: Eu ouvi falar – não tenho muita certeza, que aí é o que, se for verdade, me deixa mais chateado ainda – que esse filme era uma tentativa de criar um monstroverso.

Márcia Jamille: Ah, sim.

Leonardo: Se foi isso… e aí, como não foi muito bem, então eles foram abandonando. Pô, seria uma ideia muito legal, então eu queria que tivesse ido bem, tivesse sido bom.

Márcia Jamille: Eu sou muito fã de monstros clássicos. Um dos meus filmes favoritos é o A Múmia, de 32. É o filme pai de todas essas outras franquias de A Múmia. Aí poder ver o Monstro da Lagoa, que tem referência a ele nesse filme de 2017, poder ver o Drácula de volta, Frankenstein, nossa, eu estava muito empolgada com esse monstroverso, mas, quando lançaram esse filme e a Warner logo depois… Warner não, desculpa, a Universal logo depois disse: “Não vai rolar”, foi muito triste. Teve até uma diretora, não lembro de que série foi, que foram perguntar para ela que tipo de filme ela queria pegar e ela falou que queria fazer uma refilmagem desse filme. Muita gente animou, mas eu acho que não foi adiante. Enfim, me empolguei, mas não rolou.

Leonardo: Entendo.

Márcia Jamille: Mas Ahmanet está no meu coração. Eu queria um futuro melhor para ela, mas… e tiraram até o lance da maldição, que era o que abrilhantava a franquia. Era o lance de chegar um pesquisador… porque todos os filmes foram assim, era um pesquisador que chegava e cometia um erro usando magia antiga, acabava acordando a múmia. Dessa vez, eu acho que os feromônios estavam acesos e ela despertou de uma forma muito aleatória, enfim. Quero um episódio só para falar mal desse filme.

Nilda: É, mas não adianta você fazer uma pesquisa boa e não ter roteirista, você precisa aliar as duas coisas.

Márcia Jamille: Era um filme que eu estava muito empolgada. Eu tenho zero problemas com produções que mudam alguma coisa, tipo, o problema vem depois, quando alguém chega: “Ah, mas eu vi no filme tal que era assim”. Esse é o problema. Mas, tirando isso, se for divertido e tal… teve gente que odiou o sarcófago de metal lá, eu achei incrível e já queria bonequinho e tal, mas, quando eu vi o filme, foi tipo: “Não, deixa para lá”. É como disse, abre aspas, voz da múmia: “É”. Vocês não sabem da voz da múmia?

Nilda: Que refizeram a voz da múmia, não é? Refizeram as cordas vocais da múmia.

Márcia Jamille: É, mas essa pesquisa foi uma confusão, porque eles falaram que era a voz da múmia, sendo que é só uma reprodução artificial. É tipo a moça do Google, sabe? Porque eles não têm o trato, de fato, como era, não tem nem os pulmões e tal, então foi uma pesquisa feita por cientistas que tinha um fundo de (rocks) [00:44:41] no final das contas. Então foi uma pesquisa decepcionante, foi muito triste. Eu tinha parado para ler… quando eu recebi a notícia, eu já achei tudo muito estranho. Enquanto eu fui lendo o artigo, era do tipo: “Sim, e? Mas isso não quer dizer nada”, aí ainda fui procurar opinião de pesquisadores da área, de fonoaudiólogos, e, no final… foi decepcionante ver cientistas se prestando a esse tipo de papel. Ou seja, não é a voz da múmia, é só uma reprodução artificial. E eles ainda estão querendo me vir com o papo de querer fazer a múmia cantar em uma exposição. Gente, muito bizarro, tipo… se eles usassem a desculpa do entretenimento, dizendo… tipo, eles fizeram um artigo, publicaram e tal. Aí, se eles não fizessem isso, só fizessem, tipo: “Ah, a gente só tentou refazer o trato, mas não deu certo o (inint) [00:45:32] real, mas vamos colocar aqui”, ok, mas vir com o papo de que era o trato do caro e tal e depois falar: “Ah, a gente planeja colocá-lo para cantar”, tipo, a gente voltou ao século 19, meu anjo? Que está usando múmia como uma curiosidade bizarra. Múmias não são pecinhas de entretenimento, múmias são pessoas que viveram há três mil anos, que foram amadas ou odiadas por alguém. Tipo, é alguém ali, tenha mais respeito, por favor. Ah, eu fiquei pistola agora. É o que eu tenho que me prestar a ler enquanto divulgadora.

Márcia Jamille: E é onde entra o lance do orientalismo, do misticismo, que aí começaram a falar do “É”. Você ouviu, não é, o “É”? Aí começaram a dizer: “Não, ele falou “Bed”, ele falou “Bad”, tipo, falando que é cama, que é mau. Tipo, what the fuck, ele não falou nada, só fez um “É” e só. Aliás, ele não, o programa de computador fez isso. Então… ai, tenha paciência. Meus nervos.

[Trilha sonora]

[Som da múmia]

[Trilha sonora]

Leonardo: Vamos agora falar de algo bom, que foi uma das coisas que eu mais gostei. Eu já acompanhava seu canal, mas o que me chamou muito a atenção quando você lançou foi a série de deuses do Antigo Egito no canal. Nossa, eu gostei muito. Atualmente, acho que está com uns quatro capítulos, não é?

Márcia Jamille: É, são quatro capítulos incluindo o piloto. É um projeto bem legal, que já tem um tempinho e tal. A ideia era fazer o capítulo piloto, o capítulo zero, que era fazer um apanhado sobre as divindades do Egito Antigo e, depois, ir apresentando capítulos em que eu falo sobre cada divindade. Aí temos já o vídeo sobre o deus Anúbis, temos um sobre a deusa Bastet e saiu sobre o deus Thot. E a ideia é justamente, com o tempo, ir incluindo mais deuses. O problema maior é que, apesar de ser uma série bem legal, a proposta da série ser bem legal e tal, que é justamente eu tentar pegar o máximo possível de informações acadêmicas sobre esses deuses e incluir um capítulo específico sobre eles para realmente desvirtuar, sair desse lance de que o pessoal vai procurar na internet e encontra, por exemplo, que a deusa Bastet era a deusa que espantava os maus espíritos ou algo assim. O maior problema é que é uma série muito complicada de se montar, é uma série que depende de muito tempo, porque infelizmente, apesar de muito se falar sobre deuses do Egito, principalmente em canais de espiritualistas e tal, pouco se sabe de fato o que temos sobre eles. Muito do que é falado por aí é besteira, é bobagem, então é uma série que demanda muito tempo de pesquisa, é muita pesquisa em outras línguas, e ainda tem as ilustrações e tal. Aí por isso que poucos capítulos saíram, mas eu espero trazer muito mais capítulos por aí, por isso torne-se membro, que ajuda.

Leonardo: Eu acho muito legal muito por causa disso também, porque eu vou pesquisar sobre deuses do Egito e aí eu fico nessa dúvida realmente o que está ali em si ou não, porque, diferentemente, sei lá, por exemplo, de gregos, que você encontra mais facilmente conteúdo, você encontra até os autores antigos, mesmo até que alguns autores possam não ter existido, dos gregos, mas você encontra. Então é mais perto da fonte, teoricamente. Você vai ver ali Hesíodo, você vai ver o Homero, tudo isso aí, então você pega mais dali, mesmo até que dos gregos tenha tido transformação com o tempo, mas você consegue ver isso aí; agora, de deuses egípcios, quem eu vou pegar que escreveu sobre aquilo? Sabe?

Márcia Jamille: Pois é, aí qualquer maluquice que a pessoa falar os outros vão acreditar.

Leonardo: E aí muitas vezes eu… tipo assim, eu não vou pegar de um livro qualquer ou não vou assistir ao History e pegar informação dali, mas eu vou a algum site ali ou algum outro livro que eu confie mais, só que mesmo ali eu vou ficar com receio: de onde veio aquela informação? Quando eu vi o primeiro capítulo, que foi de apresentação, eu: “Pô, que legal, uma pessoa profissional já, que estuda já do Antigo Egito, falando isso aí”, é algo de mais confiança.

Márcia Jamille: E outra coisa importante sobre isso é que eu tento pegar o máximo possível de descobertas arqueológicas. No lance do capítulo piloto, que é o geralzão falando o que eram os deuses no Egito, teve momentos, por exemplo, que tinha coisa que eu não sabia confirmar, então tive que procurar o profissional. Aquela parte dos hieróglifos, eu precisei entrar em contato com o filólogo Ronaldo Guilherme Gurgel Pereira, que foi quem escreveu até o livro Gramática Fundamental de Egípcio Hieroglífico. Eu escrevei para ele e falei: “Olha, como é essa parte aqui?” e tal e ele foi muito solícito e explicou como era, porque tem… eu não sou filóloga, essa é a realidade, então chega aquele momento que a gente precisa realmente fazer esse link com outros pesquisadores. Então foi o legal dessa série, que, se tinha alguma coisa que eu não sabia, por exemplo, aí eu chegava e escrevia para fulano: “Fulano, essa parte aqui?” e tal; fulano que respondesse, não é? Porque tem aqueles que não respondem, mas, enfim, a gente tenta. Mas eu queria expandir para outras divindades, de outras sociedades, culturas e outros continentes, mas, se o Egito já está complicado por conta de tempo…

Leonardo: Eu imagino que seja complicado, mas eu falo, como alguém que acompanha, como público do canal aí, vale a pena você… a gente espera o que precisar esperar para vir os próximos episódios, porque vale a pena, porque eu falei: é muito difícil procurar mesmo.

Márcia Jamille: Normalmente, os seguidores mais assíduos têm paciência, mas tem outros que me xingam falando: “Mas cadê o deus fulano de tal? E o deus sicrano?”. Eles me xingam mesmo. Ah, outra coisa que eu gostaria de falar é que as ilustrações são totalmente originais, são feitas por mim e por minha irmã, que é formada em Artes, então é tudo original ali. Ou seja, eu estou fazendo um mini doc em formato de guerrilha, da forma que dá, então por isso, gente, tenham paciência e parem de me xingar, porque tudo ali é feito no sangue, suor e lágrimas.

Leonardo: Bom, a gente já pode ir finalizando, indo para as indicações. Você pode dar algumas indicações aí de livros e/ou outros assuntos mesmo. Obviamente, a principal indicação aqui que a gente já faz é do seu canal.

Márcia Jamille: Por favor, se inscrevam.

Leonardo: Sim. Mas indica, e indica também o seu curso, que eu encontrei esses dias, no Udemy.

Márcia Jamille: E o pior é que eu já tinha até esquecido, olha, perdi a oportunidade de vender o meu próprio curso. Então, gente, na Udemy estreou um curso meu sobre animais sagrados do Egito Antigo. É só dar uma pesquisadinha lá na barra de busca. Tem cupons de desconto que rolam, normalmente eu coloco lá nas minhas redes sociais. No caso, o Twitter é mjamille – jamille com dois L e E no final -, e também anuncio muito no Instagram, que é marciajamille, tudo juntinho, e busquem lá. E espero que vocês lancem o link para o pessoal pegar. É um curso que está bem bacana, porque eu faço um passeio sobre a história dos animais do Egito Antigo. Falo também sobre a arqueologia, por que é importante estudar os animais, e tem uma parte de seção de perguntas, que o pessoal já assistiu às aulas envia uma pergunta tipo “E o animal tal?”, “E nessa situação?”, então eu faço vídeos complementares, e eu espero cada vez mais colocar mais vídeos. Inclusive, o próximo vídeo que eu vou colocar é sobre tartarugas no Egito Antigo, que, por exemplo, vocês sabiam que tartarugas eram vistas com maus olhos pelos antigos egípcios? Eram consideradas símbolos do mal. Então tem uma série de curiosidades. Então está aí o convite para vocês darem uma olhadinha. O primeiro capítulo é gratuito para vocês darem uma olhada e quem sabe se inscreverem, por favor.

Leonardo: Que legal.

Nilda: Estou boquiaberta com essa história de que, primeiro, eu nunca havia pensado na questão de haver tartarugas no Antigo Egito.

Márcia Jamille: Então, um dos capítulos do curso é justamente para falar sobre os animais que eram mal vistos pelos antigos egípcios. Então, aí, olha, pode se inscrever. Cupom de desconto: (dorime) [00:53:48]. Tem um cupom de desconto do (inint) [00:53:55], que é (dorime) [00:53:55]. Ah, eu vou tentar ressuscitar esse cupom aí, quem quiser coloca lá, por favor, é o desconto mais barato que tem.

Leonardo: Ótimo, a gente vai deixar o link aí. Quando eu vi o curso, eu falei: “Puta, que legal”.

Márcia Jamille: E de livros sobre o Egito Antigo em si, eu indico muito… é que esse livro já é bem antiguinho, então normalmente ele muda o nome, mas usualmente vocês vão encontrar como Deuses, Templos e Faraós – Atlas Cultural do Egito Antigo, que foi escrito pelo John Banes e o Jaromír Málek. É um livro, como eu disse, antigo, mas ele não está tão datado assim, ele faz um passeio sobre a história e a geografia do Egito Antigo, fala um pouco sobre o início da egiptologia, fala sobre egiptomania. Então, para aquela pessoa que não sabe nada mesmo do Egito e quer comprar um livro, pode ir atrás dele. Infelizmente, editoras não lançaram mais, mas eu acho que em sebos vocês ainda encontram. Se vocês encontrarem, comprem, é um livro muito bom. Também tem História do Egito Antigo. Esse livro foi lançado aqui no Brasil há alguns anos, mas ele ainda está disponível para venda, que é do Nicolas Grimal. Ele é um livro muito caro, é bem caro, e eu o aconselho para aquelas pessoas que leram, sei lá, o livro do Baines e Málek e querem se aprofundar mais, então podem pegar esse livro. Ele é bem denso, mas vocês vão aprender muita coisa. E sobre religião especificamente tem Sociedade, Moralidade e Práticas Religiosas, que é do Byron Shafer. É um livro que a tradução dele para o português está um pouco decepcionante, mas não vai impedir o entendimento, e é um livro realmente muito bom, aborda coisas bem pontuais sobre a religião egípcia. E tem o meu livro, Uma Viagem pelo Nilo. Ele é um livro curtinho, está sendo vendido em ebook na Amazon. Nele, eu falo sobre o Egito Antigo de uma forma geral: história, geografia, deuses e tal. E esse é o livro realmente mais básico que eu posso indicar para vocês e que vocês irão entender. Agora, de arqueologia é mais complicado, mas tem o livro Arqueologia do professor Pedro Paulo Funari. Ele não é tão didático, mas é uma boa introdução acerca do assunto. É, eu acho que são essas as minhas indicações.

Leonardo: Legal, e legal ter indicado livros em si, porque livros… para a questão de Egito, mas eu digo isso em geral, até outros conceitos históricos, eu pessoalmente tenho muito receio. Livro você pode escrever, você não precisa ser acadêmico daquilo lá para escrever, você não precisa ter propriedade para escrever aquilo lá. Então eu, quando vou pesquisar, dou muito mais foco para artigo acadêmico, só que às vezes a linguagem é mais pesada. Então é legal ter uma indicação com mais confiança de algum livro, que, de repente, a pessoa… de forma mais introdutória, a pessoa precisa dar os primeiros passos. Então eu acho que valeu muito a pena aí as indicações.

Márcia Jamille: E se vocês pegarem a National Geographic antiga também que tem a matéria sobre o Egito, também é bacaninha, pena que não tem mais lançado no Brasil, mas as matérias da National também são uma boa introdução ao assunto, porque eles escrevem de uma forma muito mais fácil, normalmente explicam sobre algum período e tal. Aí, se vocês encontrarem em sebos ou então a sua mãe ou o seu pai tiverem aí guardada no armário empoeirado de casa, leiam, porque realmente também é bacana. E não confiem 100% em documentários, por favor. Documentários são datados e eles são feitos para chamar a atenção, então nem sempre o que eles apresentam ali é total verdade, ou então eles maquiam muito. Então não confiem 100% em documentários. Assistam quando vocês já tiverem uma leitura sobre Egito Antigo e tal e arqueologia no geral, mas não acreditem 100%. São datados e são feitos para o entretenimento. Raramente são para realmente explicar de fato como é o trabalho acadêmico. Não que todos sejam ruins, mas eu tenho que dar esse aviso, porque muita gente chega até mim e fala: “Ah, mas no documentário tal falaram que fizeram essa descoberta e é o fulano”, sendo que não é assim. Ali eles falaram que foi, naquela época acreditava-se nisso, mas hoje já é diferente. Então confiem mais, por exemplo, em artigo de uma National Geographic da vida ou então em artigos acadêmicos, no caso, se vocês tiverem uma leitura melhor. Eu acho que eu não tenho mais nenhum jabá, não, acho que já vendi meu curso aqui, do qual nem lembrava. Eu sou péssima para vender, meu deus. Mas, enfim, se inscrevam no meu canal, gente.

Leonardo: A gente vai deixar os links, então, ouvinte, não se preocupe. Então é isso. Então ficamos aqui e até o próximo episódio.

[Trilha sonora]

[00:59:24]

(FIM)